A UNICEF sugere que se invista fortemente no saneamento básico, de modo a combater doenças como a cólera, que assolou, recentemente, Benguela, colocando a província numa posição de epicentro do surto a nível de Angola. Edson Monteiro, especialista em água e saneamento deste organismo da ONU, sugere que se introduza no Programa de Desenvolvimento Local e Combate à Fome e à Pobreza um item relativo ao saneamento básico, numa altura em que o Governo de Benguela, apesar dos parcos recursos, pretende baixar para 65 por cento o nível de defecação ao ar livre
Lá se foram os tempos em que a província de Benguela, à época Armando da Cruz Neto governador, destinava 40 por cento do seu orçamento ao saneamento básico.
O lixo, de resto, representava um segmento de negócio que movimentava milhões, tudo para manter as cidades (do litoral) e as respectivas periferias limpas – lembrou uma fonte do Governo.
Nos dias que correm, porém, muitos administradores têm se debatido com problemas de recursos financeiros para a recolha de lixo, agravado com o facto de, segundo informações apuradas por este jornal, o Governo Provincial de Benguela ter, praticamente, chamado para si a responsabilidade na gestão desse dossier, invertendo um cenário em que as administrações elas próprias contratavam empresas e/ou funcionários que se encarregavam da recolha de lixo.
Manuel Nunes Júnior “herdou” um modelo de Luís Nunes. Este último tinha sugerido a contratação de centenas de trabalhadores que passariam a cuidar do lixo. Entretanto, fontes governamentais justificaram a adopção desse modelo com a escassez de recursos financeiros, porquanto, hoje, não existe uma rubrica orçamental destinada, especificamente, ao saneamento básico disponibilizada pelo Governo Central.
Desta feita, o pagamento de funcionários de limpeza passou a estar a cargo do Governo Provincial de Benguela. Para debelar a falta de recursos para a limpeza da cidade, administradores com quem este jornal privou dizem que, internamente, têm encontrado aquilo que consideram de “escapatórias” para essa ou outra acção inerente ao saneamento, sendo certo que, para este particular, contam com o apoio de algumas cooperativas e “mãos caridosas” de alguns empresários.
O especialista em água e saneamento da UNICEF, Edson Monteiro, tem, porém, uma sugestão a qual avançou, recentemente, em uma acção de capacitação dirigida a administradores dos 23 municípios a pensar no combate à defecação.
“Eu sei que, neste momento, vocês estão a fazer os orçamentos/2026. Procurem os argumentos que vocês já têm de combate à pobreza”, sugere, numa clara alusão ao Programa de Desenvolvimento Local e Combate à Fome e à Pobreza.
Apela a que se coloque o saneamento total, liderado pelas comunidades, nas linhas orçamentais do Governo Local, ao defender, também, o envolvimento de algumas ONG nesse processo. Lembra que os fundos orçamentais de algumas instituições internacionais, disponibilizados à luz de alguns pacotes, devem ser usados, sob pena de voltarem para os financiadores.
O especialista reitera que a melhoria do saneamento básico contribui para o combate à cólera, uma doença que, recentemente, assolou Benguela, a ponto de a província ter sido o epicentro do surto. “Eu costumo dizer que, se nós investirmos um dólar no saneamento, nós vamos ter 5 a 8 dólares de retorno(…) Vai reduzir as doenças”, considera.
Entendimento de impacto socioeconómico
Apesar desse quadro, a UNICEF coloca acento tónico na questão relativa à falta de orçamentos, ao sugerir que, se os políticos não entenderem o que é o saneamento, não o vão definir como prioridade.
“Quantas viagens do senhor governador nas comitivas e, depois, chegam lá todo aflito vão ao mato, mas, quando ele vai ao mato e volta, já não lava as mãos”, apontou. “Se ele bem o saneamento e os impactos na saúde pública, vão entender o impacto para o desenvolvimento socioeconómico”, considera o especialista.
Falta de saneamento empurra cidadãos à defecação ao ar livre A falta de saneamento básico tem originado a defecação ao ar livre. Apesar de não dispor de orçamentos, depositando, por isso, esperança no Programa de Desenvolvimento Local e Combate à Fome e à Pobreza, o governador de Benguela, Manuel Nunes Júnior, destaca que a meta de Benguela é a de reduzir em 65 por cento a prática de defecação ao ar livre até 2027.
Júnior sublinha, pois, que o seu governo, em função de um quadro de defecação que o deixa, de certo modo, preocupado, projecta a capacitação de líderes comunitários para, de forma conjunta, implementarem acções tendentes à melhoria do saneamento básico. Enquanto isso, o Governo Provincial de Benguela avança com a construção de latrinas um pouco pela província para o combate à defecação ao ar livre.
Por: Constantino Eduardo, em Benguela.