Doze anos depois, a selecção nacional sénior masculina de basquetebol voltou a vencer o Afrobasquet, perfazendo assim o seu 12.º título. Com uma geração em que a principal estrela foi, sem dúvida, o base do Petro de Luanda, Childe Dundão, o conjunto angolano era, para muitos, apresentado como não tendo grandes hipóteses, apesar do percurso que carrega na competição.
Ainda assim, com o peso da renovação imposto pelo técnico espanhol Pepe Claros, que teve a ousadia de deixar de lado Carlos Morais, desde cedo começaram as críticas às escolhas feitas. Em determinado momento, tanto o seleccionador como o próprio presidente da Federação Angolana de Basquetebol, Moniz da Silva, assumiram os riscos.
Como realçou há pouco tempo o então ministro da Juventude e Desportos, Marcos Barrica, sempre que se organizou a competição, Angola não defraudou. E a conquista de ontem, frente ao Mali, veio confirmar uma vez mais este desígnio, fazendo-o de maneira convincente no último jogo, vencendo por mais de 30 pontos. Tida por muitos como arriscada, a ousada renovação de Pepe Claros, com a bênção da actual liderança da FAB, criou mesmo vários amargos de boca.
O facto de se ter introduzido muito sangue novo levantou sérias desconfianças sobre se se poderia ou não chegar ao troféu. Para muitos, era essencial que se aliasse alguma veterania ao grupo, o que acabou por não acontecer, apesar das exigências. Em todo o caso, a intransigência venceu.
E a renovação do conjunto nacional, introduzindo algumas unidades até então desconhecidas, acabou por vincar, abrindo agora portas para novas estrelas da companhia, não obstante a existência de nomes que, mesmo jovens, mais amedrontam adversários.
Certamente que, se Angola não vencesse, a esta hora as culpas seriam logo imputadas ao técnico e a quem o contratou, sobretudo por conta das suas escolhas que, diga-se de passagem, deixaram muitos corações inquietos. Quem acompanhou os três últimos jogos, com CaboVerde e Camarões, principalmente, e malgum instante chegou a não acreditar.
A icónica foto em que aparece o então seleccionador e principal obreiro do basquetebol no país,Vitorino Cunha, quase em lágrimas, representa o frio na barriga que todos sentimos em determinado instante nas últimas partidas que nos levaram à final. E não era para menos, sendo que a última partida acabou por ser mais fácil, a julgar pela diferença pontual.
A vitória deste domingo é, igualmente, uma responsabilidade para que se melhore o quadro em que está o basquetebol angolano, circunscrito a um conjunto de poucos clubes, muito distante do palmarés que o país orgulhosamente exibe.
Um campeão africano, com mais de 10 títulos, deve impor-se a esta dimensão, com competições mais acirradas e uma forte aposta na formação, para que a renovação nunca seja vista apenas como sendo intransigência.