Natural do Lobito, Ademar Andrade, ou simplesmente Mário, é um artesão que se destaca pela excelência e peculiaridade que apresenta nas suas obras, com uma versatilidade e genuinidade que tornam as suas peças atractivas a qualquer olho que as contempla. Com uma trajectória artística, que já leva 31 anos, recorda que a arte o retirou da rua, da frustração e do álcool numa fase depressiva da sua vida
Em Lunada, no município de Talatona, mais concretamente no bairro Dangereux (ou Danjarré, como é vulgarmente pronunciado pela população), nos arredores da famosa “Praça dos 3 imbondeiros”, a nossa equipa de reportagem foi ao encontro de um jovem artista taletoso, ousado e visionário chamado Mário.
Natural do Lobito, província de Benguela, Ademar Andrade ou simplesmente Mário é um artesão que se destaca no mercado artístico nacional pela excelência e peculiaridade que apresenta nas suas obras, com uma versatilidade e genuinidade que tornam as suas peças atractivas a qualquer olho que as contempla.
Filho de mãe angolana e pai caboverdiano, o jovem de 42 anos começou a dar os primeiros passos no artesanato aos 12 anos de idade, por influência do tio e da avó que eram pessoas já ligadas à arte nas décadas de 1970 e 80, na sua terra natal. “Comecei esta actividade com 12 anos de idade.
Fui impulsionado pelo meu tio Edson Lopes e pela minha avó, Maria Eugênia, que foram os principais causadores do grande artista que hoje sou, isto em 1994, na minha terra natal, no Lobito”, começou por reportar o artista. Recorda que os primeiros passos da sua jornada artística foram dados de forma quase que obrigatória, ou seja, numa altura em que não tinha qualquer interesse pela arte e muito menos paixão.
Inquieto, proactivo, era um menino que nutria paixão pelo futebol, chegando, em algumas ocasiões, a faltar à escola só para estar com os amigos a jogar a bola. Preocupados com essa “obsessão” pela bola, o tio e a avó procuraram formas de o manter ocupado nos tempos livres e nas férias com actividades ligadas às artes, passando pela pintura, artesanato e pelo corte e costura a moda tradicional.
Inconscientemente, foi ganhando habilidades, jeito e, aos poucos, nascia, de forma irresistível, a paixão pelas artes, chegando então a levá-lo a descobrir a sua maior inclinação artística, que foi o artesanato, isto quase aos 14 anos de idade.
“A minha avó sempre dizia que tinha que me arranjar ocupação, então comecei a ajudar o meu tio que já trabalhava com o artesanato. Comecei a me empenhar e em menos de 15 dias eu já ganhava algum craquejo e mostrava resultados interessantes aos olhos do meu tio”, recordou com nostalgia.
Um artista exigente e detalhista
Com uma trajectória artística que já leva 31 anos, se autodescreve como um artista simples, criativo, exigente e detalhista, e que faz questão de não deixar os créditos da sua arte em mãos alheias e nem se quer limita às barreiras circunstanciais da realidade que o circunda. Detentor de um talento impressionante e com uma disciplina de trabalho bem definida, Mário diz ser um artista polivalente que consegue se encaixar na arte de várias formas e técnicas.
Tem domínio das áreas de pintura, corte e costura, desenho criativo e artesanato, esta última a sua “praia” favorita. “Na arte eu faço tudo, faço desde o desenho, o recorte, a costura, a pintura e até o processo final que envolve o acabamento da obra”, disse o artista.
Em sua galeria, situada no bairro Dangereux, numa zona localizada na via principal que liga o referido bairro ao vizinho bairro do Lar Patriota, Mário conta com um acervo repleto de obras diversas de artesanato como chinelas de cabedal, cinto, pastas ou bolsas feitas de pele de animal e/ou cachos de múcua, bolsas de tecido, sapatos e outros acessórios de uso pessoal ou doméstico.
Sem rodeios, se autodescreve como uma pessoa realizada por trabalhar na sua área de eleição e por sentir que o seu trabalho tem sido devidamente aproveitado por aqueles que o solicitam, reconhecendo nele a qualidade e a excelência que se procura muitas vezes no mercado internacional.
“Vencer na vida através da arte é uma coisa muito difícil”
Embora tenha já uma trajectória profissional bem consolidada, o jovem artista não esconde os obstáculos da sua área e revela que vencer na vida por meio da arte é um caminho muito duro. Entretanto, explica que, se a pessoa for persistente e consiste, mais cedo ou mais tarde a alegria chega e os frutos da arte são duradouros.
“A arte me fez acreditar que, se tu gostas, se tu te dedicas, se te apaixonas pelo que fazes, ela te ajuda a superar qualquer dificuldade que tiveres”, ressaltou.
Recordou-se das dificuldades que passou e de algumas que ainda passa nos dias de hoje e salienta que é na arte onde encontrou “a bússola” que o trouxe de volta ao mundo real, colocando-o longe das más companhias e que, por sinal, lhe proporcionou a oportunidade de conhecer uma mulher incrível que hoje ele tem como esposa e mãe dos seus filhos.
Com orgulho, não esconde a satisfação pelas conquistas já alcançadas e pelos desafios ainda pela frente, e está a projectar os seus filhos para continuarem a sua jornada.
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