Nos últimos anos, Angola tem assistido a um crescimento expressivo no uso de plataformas digitais, tanto para consumo como para negócios. Pequenos empreendedores têm recorrido às redes sociais, websites e aplicativos para oferecer produtos e serviços, aproveitando o alcance da internet como uma alternativa de baixo custo e com maior visibilidade.
Contudo, esse avanço tecnológico trouxe também a atenção do Estado para a necessidade de enquadrar tais atividades no sistema fiscal. As novas regras de tributação digital surgem assim, como uma tentativa de modernizar a arrecadação tributária, para garantir maior justiça fiscal e combater a evasão. Para os pequenos negócios, porém, o impacto dessas medidas levanta tanto desafios, quanto oportunidades.
Diante desse cenário, surge a necessidade de entender como essas novas regras afetam na prática, no dia a dia dos pequenos empreendedores digitais. É importante observar não apenas os desafios que eles enfrentarão, mas também as oportunidades que podem surgir dessa nova fase de formalização. Com isso em mente, vamos explorar o contexto tributário atual, os principais obstáculos que esses negócios enfrentam e de que forma eles podem se preparar para essa nova realidade:
1. Contexto da tributação digital
O Governo angolano, através da Administração Geral Tributária (AGT), vem implementando medidas de adaptação às transformações digitais. A tributação de serviços digitais inclui não apenas empresas multinacionais, mas também negócios locais que operam online. Plataformas de venda em redes sociais (como Instagram, Facebook ou WhatsApp Business) e marketplaces emergentes passaram a estar na mira da regulação fiscal, principalmente porque movimentam valores significativos sem muitas vezes, uma devida formalização.
2. Desafios para os pequenos negócios
• Custos adicionais: Muitos empreendedores digitais trabalham com margens de lucro reduzidas. A aplicação de novos impostos pode pressionar os preços finais, diminuindo a competitividade.
• Burocracia e conformidade: A necessidade de emissão de facturas, registo formal da actividade e reporte à AGT exige conhecimento técnico e investimento em contabilidade. Para muitos pequenos vendedores, isso representa uma barreira.
• Risco de informalidade: Sem mecanismos de apoio ou simplificação, parte dos empreendedores pode optar por permanecer na informalidade, dificultando a expansão sustentável do sector.
3. Oportunidades geradas pelas novas regras
• Inclusão no sistema financeiro: Ao formalizar-se, o pequeno negócio passa a ter acesso a crédito bancário, linhas de financiamento e programas de apoio estatais. • Maior credibilidade: Clientes tendem a confiar mais em empresas formalizadas, aumentando as possibilidades de expansão e parcerias comerciais.
• Integração internacional: O enquadramento fiscal torna os negócios digitais angolanos mais preparados para atuar em mercados externos, especialmente no comércio electrônico.
4. Realidade angolana e necessidade de equilíbrio
A economia digital em Angola ainda está em fase de consolidação. Muitos pequenos negócios surgem como alternativas de subsistência e emprego jovem. A aplicação de regras tributárias, se não for acompanhada de incentivos, pode sufocar esse crescimento.
É fundamental que o estado crie regimes simplificados e escalonados para pequenos negócios digitais, como taxas reduzidas, isenções temporárias ou pacotes de capacitação em gestão fiscal.
As novas regras de tributação digital em Angola são um passo necessário para modernizar a economia e assegurar maior justiça fiscal. No entanto, para que o impacto seja positivo, é essencial equilibrar a arrecadação com a promoção do empreendedorismo.
Os pequenos negócios online representam não apenas inovação, mas também uma resposta às dificuldades do mercado de trabalho e uma via de inclusão económica. A chave estará em encontrar soluções que permitam ao estado arrecadar de forma justa, sem sufocar os empreendedores que dão vida à economia digital angolana.
Por: MARIA DE MOURA
*Especialista em Direito Fiscal