A necessidade da existência de uma agenda de consenso – ou se atribua um outro nome – que visasse os aspectos mais prementes da vida da Nação voltou a ser levantada em alguns círculos durante os últimos dias.
Na ressaca dos fatídicos acontecimentos dos dias 27, 28 e 29 de Julho, houve quem ainda notasse a inexistência de pontos comuns, que serviriam de guia para o país.
Com regularidade, através dos órgãos de comunicação social convencionais, assim como das redes sociais, assistem-se a ataques e desentendimentos entre os principais partidos políticos, com farpas e incursões que dão a sensação de que muitos deles se pretendem apagar do mapa.
É curioso – e até mesmo atentador para a própria democracia – ler, ouvir ou assistir a pronunciamentos de alguns que são apologistas da extinção, até mesmo forçada, de determinadas forças políticas.
O que levanta, às vezes, sérias observações sobre o que faria com que alguns casos chegassem ao poder e que papel se reservaria àqueles que se mantivessem de um lado, enquanto oposição.
Independentemente destas quezílias – e das desconfianças recíprocas – urge que o país, os angolanos, pertencentes às forças políticas, sociedade civil e outras organizações, traçassem uma linha comum que pudesse servir de bússola para todos.
Não importa o que nos reservará o futuro, mas há compromissos a nível da sociedade, economia, política e outras áreas que devem ser aceites por todos e respeitados em qualquer circunstância da vida, assim como hoje qualquer angolano olha para a sua Constituição, não obstante o facto de o seu parto ter sido, inicialmente, rejeitado por alguns segmentos. Mas, chegar a uma agenda de consenso ou a um hipotético pacto não será desde já uma tarefa fácil.
O desequilíbrio na balança, as desconfianças políticas e, sobretudo, a falta de independência até mesmo de muitos sectores que se presumiam neutros, acaba por minar o terreno, criando bases para que qualquer ideia neste sentido abortasse inicialmente.
Senão vejamos: depois do fim do conflito armado, as lideranças políticas de Angola, na altura lideradas por José Eduardo dos Santos, e os responsáveis da UNITA provenientes das matas, em 2002, já tencionavam rubricar uma agenda de consenso, depois dos célebres acordos de Alvalade no tempo da Comissão de Gestão, liderada pelo general Lukamba Paulo Gato.
Os integrantes da então Missão Externa da UNITA rejeitaram por desconfiança dos seus próprios correligionários. Deitando assim por terra o nascimento da propalada agenda de consenso. Durante algum tempo, o assunto andou esquecido. Foi ressuscitado pela UNITA numa fase em que esta acredita que o partido no poder não esteja a atravessar um bom momento.
Uma visão rejeitada pelos camaradas, apesar das críticas, demonstrando não se querer submeter igualmente a um ditame que não corresponda aos seus desígnios.
Nem tão pouco provenientes de sectores dos quais não reconhecem legitimidade para o efeito, tal como no passado. É por isso que a unanimidade observada, nos últimos dias, na aprovação da nova legislação eleitoral acaba por ter um certo simbolismo a nível de consensos entre os principais partidos políticos, sobretudo para desafios futuros.
Mas, ainda assim, distante de uma so- ciedade civil que se diz ultrapassada, incluindo por quem se pensava encontrar mais acolhimento.