A conversa teve lugar durante o Fórum de Negócios e Conectividade que a Media Nova realizou em Benguela, há dois anos, mas, como passar do tempo, mantém-se actual.
Eram dois jovens, com menos de 30 anos de idade, acredito, que num dos intervalos conversavam sobre o que cada um produzia algures entre o Huambo e o Bié. Distante das conversas algumas vezes triviais que muitos mais velhos atribuem a um segmento da juventude, os dois rapazes falavam sobre a produção de alho e feijão nos seus campos agrícolas.
E tinham decidido participar do fórum porque tencionavam encontrar outros produtores, investidores e outros empresários com quem gostariam de trocar sinergias e garantir novos mercados. Foi durante aquele dia, em Fevereiro de 2023, que me apercebi da existência de muitos comerciantes congoleses democráticos e de outros países africanos que se instalam no interior das aldeias e vilas para adquirir, ainda sob o solo, grande parte da produção agrícola para depois os expedirem às suas zonas de origem.
No diálogo com os jovens, diziam já ter vendido quase todo o alho e outros produtos que ainda nem tinham sido colhidos. Há cada vez mais jovens, sobretudo no interior, que se vão convencendo de que o futuro está mesmo aí onde se encontram.
No chão da terra que os viu nascer e distante da azáfama das grandes cidades e dos seus eternos problemas, alguns dos quais, por mais que se espere, nunca terão uma solução a 100 por cento.
Afastados até das polémicas das redes sociais, umas vezes usadas por terceiros com interesses inconfessos, vai sendo possível ver afirmar-se uma futura classe de agricultores nacionais que agora vai colhendo os frutos que há muito se procurava.
Embora ainda se assista a um êxodo do campo para as cidades, como noutras épocas da vida deste país, há muitos bons exemplos de cidadãos, sobretudo jovens, que não arredam o pé e vão contrariando, eficientemente, esta tendência que se pensa incontrolável.
Não são ainda da dimensão de um Alfeu Vinevala ou Felisberto Capamba que, depois de longos sacrifícios, hoje se tornam as principais referências a nível da agro-indústria para jovens e até anciões, demonstrando que da terra lavrada acabam por sair as maio- res e melhores decisões para toda uma vida.
Mas, nada me surpreende se nos próximos 10 anos vir os dois jovens do Fórum de Benguela transformados na dimensão de outros empresários agrícolas. É sabido que se vive algum tempo de crise, mas os bons exemplos deveriam ser disseminados da melhor forma para inspirar aqueles que hoje quase só vêem fantasmas.
Quando o crescimento agrícola que o país vai assistindo também está a ser acompanhado de oportunidades para um número considerável de jovens. Alguns como trabalhadores, outros na agricultura de subsistência e até há quem se dedique somente à comercialização de produtos dos campos para as grandes cidades.