A lgumas semanas depois dos actos de vandalismo que se assistiram no país, com a destruição de inúmeras infra-estruturas privadas, a esta hora muitos ainda fazem as contas sobre os prejuízos que tiveram.
Certamente, os que têm seguro ou possuem uma situação jurídica regularizada poderão beneficiar da ajuda fornecida pelo Executivo do Presidente João Lourenço, avaliado em 50 mil milhões de kwanzas.
Outros, infelizmente, não poderão se socorrer desta verba, que daria para atenuar os estragos e repor o stock dos bens perdidos.
Além dos bens físicos, em muitos permanecem outros danos que levarão algum tempo a serem afastados. E há já casos de cidadãos que a esta hora se devem ter arrependido dos actos de vandalismo, por conta da falta que determinados serviços hoje fazem para as suas vidas e das comunidades a que pertencem.
No domingo, pude passar por uma das lojas da marca Arreiou, por sinal um dos projectos empresariais que mais sofreu durante os actos dos fatídicos dias 28, 29 e 30 de Julho, que acabou por vitimar mortalmente cerca de 30 cidadãos angolanos, entre civis e polícia.
Embora as obras em algumas infra-estruturas já se façam sentir, a verdade é que nestas zonas afectadas muitos dos seus habitantes já se queixam da falta que algumas destas lojas e outros serviços estão a fazer.
Alguns agora têm de percorrer distâncias para ter acesso a um certo bem ou até mesmo para adquirir o tão desejado pão-nosso de cada dia. Por estes dias, é provável que o arrependimento esteja a morar na mente de alguns até que se viram tentados a pilhar os bens alheios.
Não só por conta de estarem a ser responsabilizados judicialmente – com um número considerável já encarcerado – mas sobretudo porque acabaram por criar dificuldades a eles mesmos.
Até mesmo aqueles que acabaram por levar bens de primeira necessidade, como alimentos ou outros, já devem ter feito digestão do que retiraram das lojas, mas no dia seguinte se devem ter apercebido de que os actos por eles praticados deixaram no desemprego os seus próprios parentes, alguns deles até directos.
Passando assim a integrar a já vasta lista de desempregados no país. Tivesse a paralisação dos taxistas, que desencadeou uma onda de vandalismo, ocorrido nos marcos legais, a esta hora muitos não teriam perdido os empregos, as lojas não estariam destruídas, nem tão pouco os cidadãos necessitariam de percorrer distâncias para ter acesso aos bens que furtaram.
Protestar, sim, é um direito que cabe a todos e com respaldo legal, mas destruir acaba por criar ainda mais embaraços aos próprios cidadãos que lutam por melhores condições de vida.
Felizes – e compreendidos – devem estar aqueles grupos de jovens exemplares em certa parte do Rocha Pinto que, por conta e risco, apesar da pressão popular, não permitiram que um outro grupo vandalizasse as lojas em que se abastecem de produtos, nem tão pouco uma agência de um banco nas proximidades.