Em entrevista ao jornal OPAÍS, o analista desportivo Eduardo Baptista “Moscavide” abordou a preparação da Selecção Nacional sénior masculina de basquetebol, tendo em vista o Afrobasket 2025, de 12 a 24 deste mês. O entrevistado abordou também a qualidade técnica e táctica dos adversários que Angola terá na fase de grupos, bem como a possibilidade do combinado angolano, às ordens de Pep Clarós, resgatar o título perdido há 12 anos
Em vésperas do evento continental, o comentador Baptista Moscavide traçou o raio-x da selecção angolana, apontando os trunfos, os riscos e a pressão que pode transformarse em combustível. Em entrevista a este jornal, o analista fez questão de assinalar que os hendecacampeões africanos chegam bem preparados e com argumentos válidos para discutir o campeonato com as principais potências do continente.
Esse optimismo, segundo o analista, nasce dos sinais deixados nos jogos de preparação realizados no Reino de Espanha. “Pelos resultados obtidos no estágio que realizámos no exterior, acredito que o combinado angolano preparou-se muito bem.
Vencemos o Chile e perdemos com a Argentina”, afirmou. Baptista Moscavide prosseguiu: “Mas perder por cinco ou seis pontos com a Argentina já é um bom resultado, lembrando que a selecção sul-americana está entre as melhores do mundo”, revelou.
Mas o analista não tem dúvidas de que o nível será alto e que várias selecções chegam com legítimas aspirações na competição. “Haverá várias selecções candidatas ao título, e vencerá quem jogar melhor”, sublinhou.
No entanto, para além da capacidade técnica, Baptista Moscavide apontou a pressão psicológica como um dos grandes desafios a enfrentar. “Vamos ver como é que os nossos jogadores vão responder à pressão psicológica transmitida pelo público”, acrescentou.
O ambiente nas arenas será um factor a ter em conta, e Baptista Moscavide vê nisso uma vantagem a ser explorada. “Esse apoio pode ser transformado em energia positiva para dentro de campo”, disse, tendo sinalizado que conquistar o evento continental vai exigir mais do que qualidade técnica.
“Os nossos jogadores vão ter de se transcender para ganhar esse campeonato”, alertou o analista. Estreia com favoritismo e cautela Quanto ao jogo de estreia, frente à Líbia, o especialista vê o cinco nacional como favorito.
“O nosso país pode perfeitamente ganhar o jogo de estreia”, assumiu. Apesar disso, Baptista Moscavide não deixou de advertir que o histórico exige bastante cautela.
“A Líbia nunca foi uma selecção de topo no panorama do basquetebol africano, a não ser que façam como em 2009. Naquele ano, os líbios reforçaram-se com atletas norte-americanos naturalizados”, explanou.
Essa incerteza, segundo o analista, obriga o combinado angolano a entrar focado, sem subestimar o adversário. “Temos tudo para ganhar, mas não podemos facilitar”, anotou.
“Principal obstáculo de Angola tem a ver com os triplos”
Baptista Moscavide salientou que o principal obstáculo da selecção angolana tem a ver com os lançamentos da linha dos três pontos. O analista considerou que a eficácia nos arremessos longos pode decidir jogos.
“Se o triplo sair, temos tudo para ganhar esse campeonato. Se não sair, será complicado”, advertiu. No capítulo físico, Baptista Moscavide destacou a estatura da selecção como um dos grandes trunfos.
“Na verdade, temos a selecção mais alta de sempre nas posições quatro e cinco”, acrescentando que essa vantagem pode ser decisiva nos ressaltos, no jogo interior e na proteção do cesto.
O comentador observa, contudo, que a média de altura sofre uma ligeira queda por conta do base Childe Dundão. “A nossa média de altura só diminui por causa do Childe Dundão”, explicou.
Questionado sobre a possibilidade de algumas selecções competirem com os seus melhores jogadores, o especialista lembrou que nem sempre a equipa com mais estrelas vence. “Às vezes, isso não se trata apenas de trazer os melhores jogadores. Temos de perceber que todos vão ter dificuldades”, afirmou.
O analista entende que o entrosamento e o conhecimento mútuo entre os atletas será determinante. “É saber como eles jogam, como será o entrosamento, se vêm bem preparados ou não.
É isso que vai ditar as coisas”, disse. Como exemplo, Baptista Moscavide recordou a vitória contra a Nigéria em 2013. “Vencemos a Nigéria, mesmo quando traziam dois jogadores da NBA e mais três que jogavam na Europa e nas Américas”, lembrou. Esse feito, segundo o comentador, prova que talento individual não basta. “Isso varia muito.
O colectivo supera nomes”, assinalou. Destacou que a selecção angolana tem uma vantagem estratégica: “Os nossos jogadores actuam em várias ligas internacionais e conhecem-se bem.
Temos jogadores em França, Portugal e Espanha, e muitos deles já se conhecem desde os juvenis e juniores”, fez saber. Baptista Moscavide sublinha que Afrobasket pode ser uma montra para imagem do país O analista não ficou indiferente quanto ao momento actual que o país atravessa do ponto de vista social.
“Diante do clima de insegurança no país, é fundamental que a imagem de Angola seja protegida no exterior. Qualquer incidente fora do campo pode prejudicar o prestígio nacional”, sinalizou.
O comentador defendeu que o Afrobasket pode ser uma montra positiva para a imagem do país. “Estamos num momento em que Angola precisa de financiamento externo e de investidores. Qualquer deslize fora do campo pode ter impacto negativo. Espero que até lá nada aconteça. Temos que evitar isso”, finalizou.
Por: Kiameso Pedro