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Relatos da tempestade

Jornal OPaís por Jornal OPaís
1 de Agosto, 2025
Em Opinião
Tempo de Leitura: 5 mins de leitura
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Relatos da tempestade

Foto de: CARLOS MOCO

Sobre os acontecimentos trágicos desta semana, especialmente a morte da cidadã e de outros compatriotas e feridos, só tenho a lamentar profundamente.

Estive entre barricadas na segunda-feira na estrada da Samba, vi um carro a ser ateado fogo a menos de 100 metros, tive de rapidamente colocar-me em sentido contrário em direção ao antigo controle, a alta velocidade e no outro sentido vinham outros carros, igualmente em alta velocidade e todos nós a termos de nos desviar uns dos outros, das pedras e outros objetos que iam sendo arremessados contra as viaturas e em direção da polícia.

Chegado ao antigo controle, a barricada era maior. Conseguimos romper a primeira porque o motorista de um dos carros que vinham naquele sprint desenfreado foi muito corajoso e desceu do carro e afastou 3 contentores com fogo neles ateado.

Tivemos de passar no meio daquele fogo, andamos uns metrinhos e o cenário mais à frente era muito pior. Instintivamente subimos para o Bairro Felício e, enquanto sabíamos, os moradores gritavam em pânico: “Voltem, voltem, se vão vos matar”.

Ao longe, deu para ver as barricadas com os postes de iluminação derrubados e muitos contentores no chão e uma multidão em nossa direção para nos atacar. Só deu para, numa manobra altamente perigosa, fazer a inversão de marcha num autêntico salve-se quem puder.

Voltamos a descer o Bairro Felício em direção à estrada da Samba e pela direita já sabíamos que era impossível, pela esquerda também estava muito mal e um dos motoristas gritou: “não podemos ficar aqui parados, vamos para a esquerda!”.

O perigo era real, não sabíamos o que nos esperava, mas graças a Deus surgiu um blindado azul da polícia a romper as barricadas e mais dois carros-patrulhas que abriram-nos o caminho para o túnel do Rocha Pinto e escapamos em direção ao Aeroporto e daí nos escapamos do perigo iminente.

No dia seguinte, tive de ir às 7 horas a Caxito devido a uma urgência familiar (com base nos relatos de que Cacuaco esteve calmo no dia anterior, arrisquei) e, cumprida a minha missão inadiável, no regresso, ao chegar a Quinfangondo, apercebo-me de que as coisas já estavam quentes. Logo após a ponte, deparo-me com confrontos entre a polícia e os jovens a darem uma autêntica tareia nos poucos efetivos presentes no local.

Em momento nenhum retirei o pé do acelerador, vi vários carros a serem apedrejados, vidros partidos e várias pessoas feridas naquele percurso e uma vez mais tive sorte, até que, chegado à rotunda que dá acesso à Vila de Cacuaco, a polícia obrigou-me a parar porque lá à frente as forças da ordem travavam uma verdadeira batalha campal.

Só tive tempo de parar a viatura e ver tudo o que se passava ao meu redor e foi um autêntico terror devido aos confrontos violentos entre a polícia e grupos de jovens que surgiram de ambos os lados. Foram quatro horas inesquecíveis.

Vi vários agentes feridos, um deles com um corte no rosto indescritível que foi evacuado numa carrinha daquelas em que o SIC faz o transporte de defuntos.

Em momento nenhum cederam, mesmo diante das tentativas de apelo atacavam a polícia, que estava claramente em menor número e com escassez de meios e viravam-se como podiam.

Aos poucos foram chegando reforços da polícia de intervenção rápida e por fim efectivos do exército que ajudaram a repor a ordem. Foi um verdadeiro inferno até que a polícia nos deu a ordem para seguirmos em frente.

Andamos à velocidade máxima que podíamos e sem excesso passamos, até a paragem na Comarca, por mais de vinte pontos onde a polícia havia removido o mínimo possível as barricadas e outras barreiras com que nos fomos deparando.

Defronte à Comarca, fomos obrigados a parar porque os confrontos na zona da Boavista e antigo Roque Santeiro estavam intensos. Fomos informados pela polícia e pela guarda prisional que houve uma tentativa frustrada de libertação dos presos.

Ficamos quase uma hora parados ali na estrada, ansiosos que aquilo passasse o mais rapidamente possível, porque apesar da presença das forças de segurança, não nos sentíamos seguros, porque estávamos demasiado expostos, até que recebemos o aval para avançarmos (estavam no local mais de cinquenta viaturas).

Subimos com duas viaturas da polícia na dianteira, orientados a andarmos todos pela esquerda, e o cenário foi aterrador. Havia ao longo do percurso várias barricadas, com tudo o que era possível e o impossível de se imaginar.

Estava mais do que claro que havia se travado ali um gigante conflito entre os manifestantes (até agora não sei como lhes devo chamar) e a polícia nacional.

Sei o que vivi em dois momentos diferentes, em menos de 24 horas. O que vi foi autêntico banditismo, há mais para descrever, mas já não vou entrar em mais detalhes.

O resultado infelizmente não poderia ter sido diferente. Durante o primeiro dia destes movimentos, vimos a polícia ter um posicionamento altamente positivo, pedagógico, a evitar a todo custo o uso de meios letais e, em sentido contrário, nas redes sociais, os agitadores a vangloriarem-se, muitos a divertirem-se com a desgraça alheia.

No segundo dia, a atuação destes grupos organizados foi muito pior, mais ousada, agigantaram-se, lamentavelmente deu no que deu e acabamos por perder mais vidas humanas ao contrário do que deveria ter acontecido.

Como disse anteriormente, só tenho a lamentar a morte de cidadãos angolanos e, no sentido contrário, condenar veementemente todas as ações e espero muito sinceramente que não se repitam. Independentemente das causas, nada justifica a violência que vivemos naquelas 72 horas.

Por: OMAR NDAVOKA ABEL

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