Aparte I desta opinião abordou como a adopção da mobilidade eléctrica irá aliviar o peso dos elevados preços dos transportes públicos e colectivos, promovendo uma mobilidade urbana acessível em Angola.
Antes de apresentarmos os benefícios que vão além do preço dos transportes, é importante reconhecer que as pessoas mais cépticas poderão alegar que os desafios relacionados com a electricidade constituem uma barreira à concretização desta transição.
A essas pessoas, é necessário recordar que Angola não tem problemas com a produção de electricidade, mas sim com a sua distribuição. O país tem um excedente na produção eléctrica, o qual é ainda maior em capacidade instalada.
Além disso, Angola apresenta um dos preços de electricidade mais baixos do continente, sendo que a maior parte desta energia é limpa. Por conseguinte, promover a adopção em massa de veículos e motociclos eléctricos não representa uma ameaça à segurança energética do país.
A adopção da mobilidade eléctrica trará benefícios que vão além do alívio do encargo imposto pelo aumento do preço dos combustíveis nos transportes públicos e colectivos.
Com esta medida, o país promoverá uma mobilidade livre de carbono, impulsionando os esforços para uma economia neutra em carbono. Tal contribuirá para a preservação do planeta contra catástrofes climáticas e reforçará a posição de Angola na gestão ambiental a nível global.
Além disso, com a actual capacidade de refinação de petróleo bruto, e com as projectadas refinarias de Cabinda e Lobito, a redução da procura de combustíveis fósseis por via da mobilidade eléctrica colocará Angola mais próxima da tão desejada auto-suficiência energética.
Isso permitirá reduzir a importação de combustíveis fósseis — que, segundo o Banco Mundial, representa cerca de 22% das importações angolanas — e, consequentemente, gerar poupanças significativas para o Estado.
No caso de a produção local vir a exceder a procura interna, as exportações para países vizinhos como a República Democrática do Congo e a Zâmbia poderão aumentar, resultando também num acréscimo do Produto Interno Bruto angolano.
A relevância de Angola nos esforços globais de transição energética cresceu com a revitalização do Corredor do Lobito. As matérias-primas essenciais para a produção de baterias — utilizadas em veículos eléctricos e sistemas de armazenamento de energia — serão transportadas por este corredor.
Ao adoptar a mobilidade eléctrica e desenvolver competências técnicas para esta indústria, Angola poderá futuramente acrescentar valor localmente a esses minerais, promovendo, assim, a criação de emprego e de riqueza nacional.
É certo que existem incertezas quanto ao futuro da mobilidade eléctrica, provocadas por factores geopolíticos, resistência da indústria petrolífera e barreiras tecnológicas, entre outros.
No entanto, aqueles que ousarem correr o risco e desenvolverem capacidades com antecedência colherão os benefícios que esta transição oferece.
Os angolanos serão os únicos responsáveis se resistirem a esta oportunidade, adiando os planos de electrificação do sector dos transportes, quando deveriam, ao contrário, estar a acelerar o processo.
Referências:
World Bank (2025). “Electrical production triples in eight years to 6200 megawatts in 2023”, disponível em: https://shorturl.
at/9vSRO World Bank (2025). “Fuel imports (% of merchandise imports) – Angola”, disponível em: https:// shorturl.at/tXF4e
Por: EMANUEL ZEFERINO
*Mestre em Engenharia Industrial e Pesquisador