Um dos dias mais marcantes nas campanhas eleitorais tem sido aquele em que se denominou o da reflexão. É o momento em que, depois de largos dias em que os políticos percorrem as cidades e vilas, se permite que os cidadãos reflictam sobre as opções a tomarem, que posteriormente terão repercussão na vida de todos.
E ontem, segunda-feira, 28, depois de vários desentendimentos entre as organizações que agregam taxistas em Luanda, e noutras partes do país, esperava-se ver alguns destes filiados em casa, como se propalou ou, então, empunhando cartazes con- tra o Executivo ou determinadas figuras que a integram por conta do aumento recentemente do preço do gasóleo.
Mas ontem Luanda acordou diferente. Com os principais pontos de passageiros apinhados de pessoas que não conseguiram chegar aos postos de trabalho, aglomeração de jovens em determinados pontos, com barricadas, e acções de puro vandalismo que evidenciavam uma espécie de organização até então inimaginável. O resultado é catastrófico. Lojas destruídas, carros incendiados, armazéns completamente vandalizados.
E não seria nada errado se se dissesse que parecia haver uma certa preferência por algumas marcas, cujos símbolos constarão das estatísticas como as que mais sofreram durante o primeiro dia daquilo que se previa ser apenas o início de uma jornada que inclui mais dois dias.
O que se previa ser uma manifestação de apelo ao Executivo para que recue no preço fixado, isto é, 300 kwanzas para um litro de gasóleo, tornou-se num acrescer de problemas, onde, além dos prejuízos financeiros, também se deverão juntar o despedimento de muitos jovens trabalhadores das instalações ora destruídas. Não há dúvidas de que o aumento do preço do combustível tenha criado enormes constrangimentos à população, o que deve obrigar por parte do Executivo a criação de medidas que possam diminuir o impacto dos seus efeitos.
Poucos serão os produtos, produzidos a nível interno ou externo, que não sentirão as consequências, se se tiver em conta que, para início de conversa, os fretes em muitos destinos quase que multiplicaram, implicando no preço dos alimentos, dos transportes e outros serviços.
Ainda assim, quaisquer soluções que possam existir virão seguramente da mesa de negociações entre as autoridades e as organizações que lideraram a manifestação. E nunca de acções que acabam por semear terror, medo e prejudicar ainda mais a economia e a imagem do país que tanto precisa de investimentos. A manifestação do caos de ontem é uma acção que deve ser travada para que não se generalize.
As organizações que convocaram a mesma devem ser as primeiras a virem a público condenar os incidentes e não permitirem que amanhã os incidentes assombrem as suas consciências, embora acreditem piamente que também possam ter ganhos. Só que qualquer ganho que se venha a observar, diante do caos, será uma mera ilusão de óptica. Isso se se tiver em conta que até há quem já fale em perdas de vidas humanas, desemprego e prejuízos financeiros de largos milhões de kwanzas e dólares.