Numa economia saudável, o crédito é o sangue que alimenta a circulação do capital e estimula o crescimento. Sem acesso a financiamento, os negócios estagnam, a inovação enfraquece e os índices de riqueza e qualidade de vida tendem a degradar-se. O crédito não é apenas uma ferramenta financeira, é um instrumento de mobilidade económica e inclusão social.
Em Angola, a realidade é clara: a base da pirâmide é composta por milhões de cidadãos economicamente activos, empreendedores por necessidade, com iniciativas no comércio, agricultura, pesca ou prestação de serviços.
Porém, enfrentam um desafio persistente, o acesso a crédito adaptado. A banca tradicional, guiada por critérios convencionais, continua distante do perfil do pequeno comerciante informal, que opera sem demonstrações formais de rendimento, sem garantias reais e fora do sistema fiscal.
O resultado? Um ecossistema económico dinâmico, mas travado. Os negócios existem, mas crescem pouco. Há ideias, mas faltam recursos. O microcrédito surge assim como uma ponte:
financia o potencial onde a banca vê apenas risco. Ao financiar um nano, micro ou pequeno empreendedor, abre-se a possibilidade de dinamizar os seus negócios.
Esse movimento desencadeia benefícios significativos, como: Aumento da produtividade e circulação de bens e serviços, Geração de emprego local e Fortalecimento da economia comunitária.
Além disso, potenciar a base da pirâmide com microcrédito pode gerar ao país Maior formalização da economia, Expansão da base fiscal, Redução da pobreza estrutural e Maior resiliência social.
Mas o microcrédito vai além dos números. Ele transforma vidas. É um catalisador de mudança social, melhora as condições de vida do empreendedor e da sua família, possibilita o acesso à educação, saúde, habitação digna e dignidade no trabalho. Gera esperança, onde antes havia apenas sobrevivência. Pode um pequeno empréstimo fazer a diferença? Definitivamente, sim.
O exemplo de Bangladesh é emblemático: o seCtor de microfinanças chegou a representar cerca de 10% do PIB. Entre 2005 e 2022, o índice de pobreza caiu de 40% para 18,7%, impulsionado por programas de microcrédito que alcançaram mais de 40 milhões de pessoas, 90% delas mulheres.
Angola tem o capital humano, o espírito empreendedor e a necessidade urgente. O que falta é o crédito adaptado. O que falta é a ponte. Se queremos uma Angola mais inclusiva, mais próspera e mais equitativa, o microcrédito deve deixar de ser uma alternativa e passar a ser uma prioridade. Porque quando a base da pirâmide sobe, o país inteiro avança.
Por: Helder Catombela
*Gestor de Projectos de Inclusão Financeira e Desenvolvimento Socioeconómico









