Imagine um estádio novo, com cadeiras modernas, relvado perfeito e ecrãs gigantes. Mas o jogo nunca começa. Os jogadores aquecem, os árbitros aguardam, o público enche as bancadas. E nada acontece. O problema? Faltou organizar o essencial: definir o calendário, formar as equipas, garantir os equipamentos, treinar os árbitros e assegurar a luz para o apito inicial. Tudo parecia pronto — menos o jogo em si.
Este é, muitas vezes, o retrato simbólico do que acontece com as políticas públicas em muitos países: há boa vontade, há recursos, há entusiasmo… mas falta plano. E sem plano, o jogo não arranca. Em África, onde a juventude representa mais de 60% da população, não é diferente.
Existe uma enorme força criativa, uma energia transformadora, talentos em todas as províncias. Mas ainda jogamos em campos improvisados, com estratégias avulsas, sem um verdadeiro campeonato local de oportunidades.
O planeamento — essa palavra aparentemente técnica — é, na verdade, a alma de qualquer desenvolvimento duradouro. Sem ele, cada acção é um remendo, cada projecto é uma ilusão, cada orçamento é um desperdício.
Planeamento não é burocracia: é compromisso com o futuro. Países que venceram a pobreza, o desemprego juvenil e a exclusão social começaram pelo essencial: planear. Mediram o campo, desenharam as jogadas, colocaram cada actor na sua posição.
E, acima de tudo, garantiram que o jogo fosse para todos — não apenas para os de sempre. É nesse ponto que entra a juventude. A juventude não pode continuar a ser apenas tema de discursos, slogans de campanhas ou alvos de programas isolados.
A juventude tem de ser incluída na definição da estratégia nacional — como força activa, como protagonista do presente. Como nos lembra Amartya Sen, Prémio Nobel da Economia, “o desenvolvimento é a expansão das liberdades reais das pessoas.” E liberdade não se dá — constrói-se com educação de qualidade, oportunidades económicas reais, cultura viva, desporto acessível, segurança e representatividade.
A ausência de planeamento inclusivo gera assimetrias: algumas províncias avançam, outras ficam para trás. Algumas juventudes voam, outras ficam a ver. O campo continua em obras — e o jogo, por vezes, nunca começa para muitos.
Precisamos de uma cultura de planeamento nacional que seja intergeracional, territorial e focada em resultados. Planeamento que leve em conta o que é invisível nos relatórios, mas visível nos rostos das crianças que sonham ser médicas, engenheiros ou atletas. Planeamento que ligue o orçamento ao impacto real. Planeamento que pense a juventude como motor e não como peso.
Tal como um clube não ganha campeonatos apenas com bons jogadores, um País não se desenvolve apenas com boas intenções. É preciso um projecto claro, com metas definidas, etapas mensuráveis, comunicação eficaz e prestação de contas.
E, claro, é preciso emoção. Porque ninguém joga futebol só com estatísticas. É preciso paixão, é preciso sentir que se joga por algo maior. Assim deve ser com o planeamento público: mais do que uma ferramenta técnica, um acto de esperança.
Angola pode — e deve — ser um exemplo de País que planeia com a sua juventude, para a sua juventude, e pela sua juventude. Porque, no final das contas, não queremos apenas estádios bonitos e bandeiras erguidas. Queremos ver o jogo acontecer. E que todos, sem excepção, tenham a chance de entrar em campo.
Por: EDGAR LEANDRO