Na cultura do povo Zairense, quando se recebe visitas, especialmente de autoridades tradicionais ou entidades governamentais, é “obrigatório” fazerse um ritual de boas-vindas e acolhimento. O ritual, conhecido como ‘Nkuwo’, serve também de pedido de autorização aos ancestrais para que aquela visita se sinta devidamente acariciada e protegida pelo espírito dos antepassados durante a sua estadia naquela província
Trata-se de um ritual cujo surgimento remonta aos tempos do antigo Reino do Kongo em que as autoridades tradicionais e membros do conselho do reinado orientavam rituais de recepção de visitas, especialmente daquelas visitas vindas em nome do reino de Portugal ou de um outro reino africano que tivesse relações de proximidade com o reinado do Kongo.
Feito habitualmente no período diurno, o ritual começa com uma pequena reunião das autoridades tradicionais, sob a liderança do Rei do Kongo, que define e prepara as pessoas indicadas para protagonizarem o acto.
É escolhido um homem, de preferência jovem, com habilidades para subir à palmeira e retirar dela o maruvo (bebida natural extraída directamente da palmeira) que é entregue ao rei e aos sobas para beberem e despejar aos lugares sagrados como sinal de purificação.
O mesmo maruvo, depois de consagrado pelas autoridades, é levado ao lugar onde estão enterrados os reis e grandes entidades tradicionais da província para os agradecer, venerar e pedir a bênção e/ou autorização para que os visitantes possam coabitar com os povos, respeitando e valorizando o legado dos ancestrais. De seguida, o mesmo líquido é dado a beber aos visitantes como forma de os convidar a estar em sintonia com a ancestralidade.
A prática, que nasce entre os séculos XVIII e XIX, é preservada pelos povos daquela província até aos dias de hoje. O Nkwuo é hoje um ritual considerado sagrado pelos zairenses e que visa honrar a memória dos ancestrais, como nos conta a directora provincial da Cultura e Turismo do Zaire, Nzunzi Makiesse.
“Este é um ritual que viemos a preservar desde os tempos dos nossos antepassados, os nossos bisavôs, nossos avós e os nossos pais nos deixaram como herança cultural e nós o usamos até aos dias de hoje”, disse a directora.
Nzunzi Makiesse fez saber que o ritual é usado também em outros eventos festivos ou tradicionais como alambamento ou casamento tradicional, óbitos, festas de consagração de um rei ou soba, entre outras festividades locais.
“Aqui na nossa província, o jovem que quer manter a sua esposa sabe que no alambamento fazse esse ritual que nós chamamos de “nkuwo”. E este ritual também se faz nos óbitos e nas festas tradicionais”, acrescentou.