Tem-se dito que uma imagem vale mais do que mil palavras. Não há dúvidas quanto a isso. Há uma fotografia que, durante meses, levou-nos a questionar sobre um dos maiores desaires que assistimos no país: a seca no Cunene. O retrato, feito por um dos colegas aqui da casa, mostra um rapaz, franzino, bebendo água numa chimpaca algures no Cunene ao lado do gado que protegia.
Nem é preciso dizer que se tratava de água imprópria, mas a seca era tanta que era o suficiente para dar de beber aos animais e humanos, alguns dos quais já haviam perdido a vida por conta da escassez do líquido e, igualmente, de alimentos. E nos dias que correm, ainda existem sinais alarmantes de falta de água. Só que, indiscutivelmente, não se pode dizer que neste quesito o Executivo tenha cruzado os braços.
São vários os projectos em curso, no Cunene, Huíla e Namibe, o que vislumbra tempos mais fáceis de enfrentar em relação ao que se viveu na fase mais penosa. Não creio que venhamos a ver o mesmo retrato de outros tempos, o que muitas das vezes nos levava a questionar se Deus se tinha esquecido de nós ou a incapacidade humana não permitiria que se adoptassem medidas para pôr termo ao sofrimento.
Quem acompanhou a tragédia no Cunene, com os seus solos ora secos, ora inundados, alegra-se ao ver os projectos em curso, mormente na região do Cafu, onde um canal de irrigação retirou da seca milhares de cidadãos e transformou a zona num dos principais pontos para a feitura da agricultura na província.
Nos últimos dias, assistiu-se ao lançamento da primeira fase de loteamento de parcelas para a prática de agricultura e pecuária, nas duas margens do canal do Cafu, por sinal um território que vai provocando cobiça de muitos chico-espertos sempre ávidos em se apoderarem de terras cultiváveis.
Felizmente, o ministro da Agricultura e Florestas, Isaac dos Anjos, ressaltou que a prioridade será mesmo para os habitantes locais, ou seja, aqueles que, durante a fase das vacas magras, viveram as vicissitudes da seca. São estes que têm, agora, depois de algumas formações nas escolas de campo, a missão de transformar aquela região numa potência agrícola.
Segundo o governante, citado pela imprensa local, os espaços familiares serão divididos em talhões de 25 hectares cada, o que fará com que o proprietário tenha um ou mais títulos, independentemente do tamanho, assim como serão criadas vias de acesso para garantir maior mobilidade de animais e pessoas e possibilitar a instalação de tubagens para levar água aos lotes.