A escritora Maria Eugénia considera essencial que as crianças tenham contacto com os livros desde muito cedo, de forma a desenvolverem o gosto pela leitura. Para a escritora, nas escolas, deve-se começar com textos simples e, gradualmente, introduzir temas poéticos por formas a colocar as crianças nesse processo de descoberta literária
Ao ser questionada sobre como envolver as crianças no mundo da literatura, durante a entrevista concedida ao OPAÍS, no âmbito de uma homenagem recebida pelo seu percurso na literatura infantil — parte do projecto “50 anos, 50 homenageados”, defendeu ser fundamental oferecer-lhes, desde cedo, leituras bonitas, simples e poéticas. Com o tempo, afirmou, elas acabam por entrar naturalmente no universo da poesia, que, segundo ela, tem um grande valor formativo.
Sobre a situação da literatura infantil no país, Maria Eugénia reconhece que alguns escritores já se encontram mais avançados, enquanto outros estão a dar os primeiros passos.
Ainda assim, observa que todos têm procurado contribuir da melhor forma possível para o desenvolvimento da literatura destinada ao público infantojuvenil. “Não se pode dizer que está tudo bem, mas procuro sempre fazer o que está ao meu alcance, e acredito que os outros também estão a trabalhar com o mesmo propósito. É importante também ler os grandes autores”, sublinhou.
A escritora destacou que, apesar de existirem pessoas com ideias e vontade de criar, muitas vezes há receios que travam esses impulsos. No entanto, segundo ela, “a caminhada continua para a frente”.
Reedição de obras infanto-juvenis
Maria Eugénia Neto revelou ainda que tem em carteira um projecto de reedição de algumas das suas obras infanto-juvenis já publicadas há alguns anos. Ressaltou que os seus escritos iniciais focavam sobretudo temas como a unidade, a luta de libertação nacional e outras questões sociais e políticas, reflectindo o espírito do tempo em que foram produzidos. “Passámos por muitos sacrifícios.
Os guerrilheiros sofreram bastante, as famílias ficaram separadas. Quase não estive com o meu marido, que já faleceu. Foi muito complicado. Mas ainda estamos vivos e vamos procurar fazer melhor”, sublinhou a escritora com emoção.