Há quatro anos a liderar o gabinete provincial da Cultura e Turismo, Nzunzi Makiesse Kadi destaca avanços significativos desde que assumiu “o comando”, entretanto, reconhece que ainda há muitos desafios. A directora defende a necessidade de mais investimentos privados para que a província consiga explorar o melhor que tem da sua rica cultura e do forte potencial turístico que ostenta
Antes de mais, senhora directora, obrigado pela disponibilidade em falar para o Jornal OPAÍS. Há quanto tempo dirige o gabinete provincial da Cultura e Turismo do Zaire?
Obrigada eu pela oportunidade. Para quem não me conhece, sou Nzuzi Makiese Wete Kadi, sou directora do Gabinete Provincial da Cultura e Turismo do Zaire. Estou neste cargo há cerca de quatro anos.
Há quatro anos a dirigir o sector da Cultura e Turismo, que avanços ou recuos a província registou sob sua liderança?
Bom, é difícil resumir o que já se fez em quatro anos de trabalho. Muita coisa já se fez. Como sabe, com a elevação de M’Banza Kongo a património da humanidade vieram também algumas exigências por parte da UNESCO e, nós, nos últimos anos, temos unido esforços no sentido de atender a estas exigências e, ao mesmo tempo, trabalhar para a conservação, valorização e divulgação dos nossos marcos históricos e elementos culturais.
Há alguns anos, quem viesse visitar a nossa província tinha dificuldades em dirigir-se aos lugares históricos como o Culumbimbi, o Yalanco ou até mesmo ao Museu dos Reis. Não havia uma estrutura bem definida para receber os visitantes e dirigi-los aos lugares específicos, mas hoje já temos.
Em qualquer dos lugares importantes da nossa província, especialmente aqui na capital M’Banza Kongo, já temos pessoas adequadas que dirigem os visitantes e estão disponíveis para lhes contar a história de cada lugar que ele for visitar. Isso é resultado de um trabalho conjunto do gabinete provincial da cultura e turismo, com o auxílio das administrações.
Outro dado importante para destacar é o trabalho que temos vindo a fazer no sentido de organizarmos as igrejas. Estamos a criar formas de fiscalizar a actuação e prevenir que surjam igrejas que vão contra os valores culturais da província. Esta aqui é que tem sido a nossa “dorde-cabeça”.
Por que diz que organizar as igrejas tem sido uma “dor-de-cabeça” para o vosso gabinete? Tem tido muitas dificuldades neste quesito?Por quê?
Muito trabalho, mas é muito trabalho que nem imagina. Quando fui nomeada para assumir o gabinete provincial da cultura e turismo, não imaginava que a questão das igrejas seria a minha dor-decabeça, mas devo admitir que é a zona que me tira o sossego.
O grande problema da nossa província é a “invasão”, vou usar esta expressão, que estamos a ter dos nossos irmãos vizinhos da República Democrática do Congo (RDC).
Eles entram aqui, muitos deles de forma clandestina, com o intuito às vezes de visitar seus familiares ou de fazer comércio, mas quando assustamos já criaram igrejas, e são estas que muitas delas ameaçam distorcer os nossos valores culturais.
Alguns alugam casas com o intuito de viver lá ou fazer negócio, mas, no fundo, sem a administração se aperceber, transformam aqueles espaços em igrejas e são nestas igrejas onde eles começam a implementar as suas culturas, obrigam os fiéis a falarem lingala e se vestirem como congoleses democrática, uma autêntica forma de afastar a nossa população da nossa cultura para adoptarem a do país deles.
E o que tem feito o governo provincial para combater esta situação?
Nós estamos, neste momento, a fazer um processo de cadastramento, na verdade, já começamos no ano passado, de todas as igrejas existentes na nossa província, sobretudo aquelas que não estão legalizadas, porque infelizmente temos mais igrejas que não estão reconhecidas do que aquelas que estão reconhecidas. O que acontece é que as pessoas criam igrejas do dia para a noite.
Quer dizer, alguém dorme e acorda, decide que Deus lhe inspirou a ser pastor e do nada decide formar a igreja dele, sem nenhum consentimento do governo, sem consultar as administrações, decide por si só transformar a sua cassa em igreja ou alugar um espaço para fazer igreja. Portanto, estamos a trabalhar com as administrações municipais e comunais no sentido de cadastrarmos todas as igrejas existentes na província, constatar quantas estão legalizadas e quantas não estão.
E o que vai acontecer com aquelas que não estão legalizadas?
Vamos encerrar, claro. Vamos exigir que elas primeiro se legalizem e só depois é que podem voltar a abrir. Aliás, neste quesito, estamos só à espera da aprovação da Lei sobre as Igrejas, especificamente a Lei n.º 12/19 de 14 de Maio, que o Ministério da Cultura colocou à consulta pública. Tão logo a lei esteja aprovada, ali já teremos os trâmites de actuação melhores definidos.
Mas enquanto isso, temos procurado actuar de forma administrativa. Além da questão das igrejas, outra coisa que também estamos a lutar para travar aqui na nossa província é a propagação do lingala como a língua que está a ser mais predominante em vez do Kikongo que é a nossa língua nacional.
Como disse, infelizmente, os nossos congoleses, quando chegam aqui, através das suas igrejas e do comércio, impõem as suas línguas à nossa população. Temos aqui na província crianças e jovens que estão mais preocupados em aprender a falar lingala do que o kikongo, tudo por causa dessa influência esmagadora que eles trazem sobre a nossa população.