O ponto de partida e a disposição de meios tecnológicos são determinantes no processo de integração da Inteligência Artificial, no entender dos mesmos, para quem nós é que devemos ditar as regras e a ética
O director do Observatório Político e Social de Angola (OPSA), Sérgio Calundungo, defendeu a necessidade de o mundo ter uma capacidade crítica à Inteligência Artificial (IA), sob pena de os países mais desenvolvidos imporem a sua lógica de assimilação aos países de povos menos desenvolvidos, em vez da lógica da integração.
Sérgio Calundungo, para quem a IA não é tão neutra como muitas vezes se pretende fazer crer, ao se assimilar, vai-se adoptar maneiras, formas de olhar de quem está na zona de conforto e vantagem e de como se vai transferir à inteligência artificial todo aquele património cultural, idiossincrático, valores e costumes de quem está nas zonas de desvantagem.
Ele realçou que a inteligência artificial também nos pode dar dados pouco inclusivos, porque há países ou pessoas, no mundo, que não têm o poder de controlar, de decidir o que vai ser e para que propósito vão fazer.
A título de exemplo, o director da OPSA pediu para se imaginar uma criança de cinco ou seis anos de uma família que tenha nascido em Talatona (Luanda) e outra da mesma idade, que nasceu em Mavinga (Cuando).
“As duas nasceram num contexto de Inteligência Artificial, com todas as possibilidades que esse mecanismo pode dar. O que vai acontecer é que a criança que vive no Talatona estará exposta, tendo um nível de educação e de saúde, longe dos problemas de insegurança alimentar, que pode acabar por comprometer os níveis cognitivos e provavelmente, numa era de I.A, terá melhores condições para potencial desta ferramenta poderosíssima, se comparada à criança que vive em Mavinga”, avaliou.
O problema não é, necessariamente, da I.A, mas que não se está a partir de pontos iguais. Sérgio Calundungo recomenda haver aí um pouco de decisão de políticas públicas para corrigir isso e uma vontade, além de uma série de políticas públicas que permite tirar vantagem de uma ferramenta potencial, para acudir isso.
Mas também aconselha um olhar crítico a que tipo de sociedade, porque o que vai acontecer é alargar-se o fosso entre um e outro. “Outro exemplo é que todos nós nascemos de uma cultura pouco inclusiva, daí que, quando vemos o deficit das questões de segurança, é normal que nos esqueçamos de ser multi-inclusivos”, referiu-se.
Para a jornalista Janeth Meiodia, o relatório actual sobre a inteligência artificial denota ainda uma preocupação de desigualdade. “São questões sobre as quais vamos ainda falar, durante muito tempo. Há evoluções.
A inteligência artificial pode ser muito benéfica, mas tem a questão do isolamento, pois até a diversão, por meios tecnológicos, é feita com pessoas que estão distantes, deixando de lado as mais próximas com as quais se pode entreter, directamente.
Olhá-la como auxílio para o desenvolvimento
Lucilene Fortes diz que a inteligência artificial deve estar na base da humanidade, defendendo, igualmente, que a tecnologia ou a inovação deve estar ao serviço das sociedades ou das comunidades e, sobretudo, centrada no ser humano. “Sinto que, mais uma vez, nós estamos a ficar um pouco para trás, pois o Norte está a decidir as regras em relação à inteligência artificial e à sua adaptabilidade e cá ainda temos receio dos impactos negativos”, frisou.
Referiu que, há dez anos atrás, quando surgiram as redes sociais, ainda não se ouvia falar da inteligência artificial e que, há mais de 50 anos, quando surgiram as Tv´s, também já se tinha o risco do isolamento.
“A minha proposta é olharmos para a inteligência artificial como aliado, como um auxiliador do desenvolvimento humano e não como uma tecnologia pósapocalíptica. É uma tecnologia que vem para ajudar, mas não vem sozinha. Nós devemos ditar as regras e a ética.