Ilustre coordenador do jornal OPAÍS, saudações e votos de uma boa quarta-feira. A actual guerra no Irão — marcada por confrontos internos intensificados, tensões regionais e envolvimento de potências externas — é mais um episódio trágico num Médio Oriente onde as linhas entre conflito civil, religioso e geopolítico são cada vez mais difusas.
O país, historicamente situado no coração das disputas de influência entre o Ocidente e os seus vizinhos, mergulha agora num cenário de instabilidade que ameaça não apenas a sua integridade territorial, mas também a segurança regional.
No cerne da guerra, estão disputas internas alimentadas por décadas de repressão política, desigualdades sociais e rivalidades étnico-religiosas. As tensões entre o governo central e comunidades curdas, balúchis ou a juventude urbana descontente ganharam novos contornos, agravados por sanções internacionais, inflação galopante e uma crise de legitimidade do regime.
A repressão das manifestações em anos recentes parece ter empurrado parte da sociedade para a radicalização e resistência armada. Regionalmente, o conflito no Irão tem implicações profundas.
Um Irão enfraquecido pode alterar o equilíbrio de forças no Golfo Pérsico, afectar a estabilidade no Iraque, Síria e Líbano, e provocar movimentações estratégicas de Israel, Arábia Saudita e até da Turquia.
Além disso, há riscos claros de que grupos como os Houthis, Hezbollah ou milícias xiitas vejam no caos iraniano oportunidades para agir em nome próprio ou como braços de interesses externos, o que pode alastrar o conflito além das fronteiras iranianas. André Silas , Luanda, São Paulo