Atensão entre Israel e o Irão, que há décadas fervilhou como um vulcão prestes a entrar em erupção, parece estar finalmente “pipocando” para um confronto mais direto e perigoso.
O que antes era uma guerra de ameaças veladas, espionagem e ataques por procuração, hoje dá sinais claros de escalar para um conflito aberto, com repercussões imprevisíveis para o Médio Oriente e para o mundo inteiro.
Mas antes de prosseguir, importa esclarecer a razão do título que, para alguns leitores, pode soar à irreverência linguística. Entre nós, a expressão “pipocar” é entendida como algo afamado, aquilo que está na moda, o que prende a atenção de todos – de uso coloquial. Com efeito, pipocar significa: arrebentar, explodir ou estalar – tradução literal do português brasileiro.
Para essa conversa, adotamos o sentido popular – aquilo que está na moda ou prende a atenção de todos. Retomando – a rivalidade entre os dois países não é nova, e tem suas ramificações no ocidente. Israel vê o programa nuclear iraniano como uma ameaça existencial.
O Irão, por sua vez, vê Israel como um posto avançado do Ocidente no coração do mundo islâmico e apoia diversos grupos armados, como o Hamas, Hezbollah no Líbano e milícias na Síria e no Iraque, com o objetivo de cercar e pressionar o Estado israelita.
Este conflito, alimentado por factores geopolíticos e religiosos, vem crescendo, silenciosamente, com episódios de ciberataques, assassinatos de cientistas nucleares e bombardeios aéreos seletivos.
Este – é daqueles tipos de conflitos que um Estado nega a coexistência do outro, anulando – para este último – o direito de se proteger contra os algozes que ditam a ordem internacional. Pura anarquia!
Diante do actual cenário, surge uma pergunta: por que o Irão não pode desenvolver as suas centrais nucleares?. A resposta é retórica e abrange dimensões políticas, geopolíticas, culturais e antropológicas – a começar pela própria natureza humana que é orientada pelo poder de mandar e dominar. No entanto, este é um assunto que irei debruçar nas próximas reflexões.
Contudo, Israel não luta somente por um naco de terra naquela região do médio oriente. Agora, sob apoio americano, procura eliminar a capacidade do arsenal nuclear iraniano nessa nova investida militar. Por detrás desse conflito, há também uma intenção política do ocidente.
Neutralizar a força militar do principal aliado da Rússia e da China na região. Forçar uma mudança de regime, depondo o actual, para depois, indigitarem um líder com uma ideologia moderada face aos interesses estadunidense.
Desde o início das hostilidades, este conflito é o que mais prende a atenção do mundo. É a guerra que está a “pipocar”, dito popular. Foi também assim na guerra entre Rússia contra Ucrânia e – Israel versus Palestina.
O que me espanta, seguramente, espanta também algumas pessoas com algum senso de justiça – é a indiferença que se dá ao conflito do leste da República Democrática do Congo e ao resto de África – cujo o saldo de vítimas ainda é maior.
Sem querer minimizar as consequências dos conflitos no Médio Oriente, mas a solidariedade internacional costuma se manifestar de forma rápida e intensa – desde que o palco do sofrimento esteja na Europa ou então um dos beligerantes seja um Estado satélite de Washington.
A guerra na Ucrânia, os ataques entre Israel e o Hamas, ou as tensões nucleares que envolvem Israel e o Irão mobilizam a mídia, os governos ocidentais e a opinião pública global.
No entanto, quando as bombas caem sobre o Sudão, quando civis são massacrados no leste da RDC ou quando crianças são recrutadas como soldados em zonas de conflito no Sahel, o silêncio internacional é tumular. A desigualdade na atenção internacional a crises globais não é nova.
A diferença está na forma como as vidas humanas são avaliadas – ainda que inconscientemente. Um ataque em Kiev gera manchetes; uma tragédia em Cartum, Cabo Delgado mal consegue ocupar uma nota de rodapé.
Mas essa seletividade revela não só um duplo padrão, como também uma cegueira perigosa sobre o que realmente ameaça a estabilidade global. Para não variar, na madrugada de ontem, Trump anunciou a entrada directa na guerra, revelando os ataques conduzidos pelas forças americanas que atingiram alvos estratégicos – bombardeando três instalações de centrais nucleares iranianas: Fordow, Natanz e Isfahan.
A poderosa mídia ocidental só vai centrar-se nisso, esquecendo outros assuntos com consequências catastróficas de escala global. Este é o conflito que está a “pipocar -, parece que hoje a guerra virou moda, de tempo em tempo, haverá uma que vai chamar a atenção de todos – desde que esteja envolvida uma pérola ocidental.
Portanto, a guerra civil na Etiópia, os ataques terroristas recorrentes no norte de Moçambique e o colapso institucional na Somália são mais do que “problemas africanos”: são crises humanitárias de escala global, cujos impactos não conhecem fronteiras.
A comunidade internacional precisa, com urgência, rever seus critérios de atenção e solidariedade. Os esforços multilaterais da paz não podem ser seletivos. A justiça não pode ter cor, nacionalidade ou localização geográfica.
A África não pede privilégios – precisa da atenção e apoio igual da comunidade internacional. Enquanto o mundo continuar a virar o rosto diante do sofrimento africano, estaremos todos a perder. A hora de olhar para a África é esta. E não como um continente de problemas, mas como um espaço vital de dignidade, resistência e esperança.
Por: BENJAMIM DUNDA