No habitual zapping diário que faço, às manhãs, tardes e noites, dei por mim numa notícia SIC Notícias, passe a redundância, informando que o bilionário norte-americano Bill Gates, o principal rosto da Microsoft, deverá doar 99 por cento da sua fortuna ao continente africano.
Como era de esperar, a notícia acabou por merecer vários aplausos, sobretudo de cidadãos africanos. Não é nova a magnanimidade e postura filantrópica de Bill Gates para o mundo, sobretudo para o continente berço da humanidade. A sua generosidade tem sido manifestada ano após ano, o que vai permitindo que se distribua água, alimentos, crianças nasçam sem o vírus do HIV e até mesmo no fornecimento de energia em certos países do continente.
É verdade que qualquer um faz o que quiser com o dinheiro que possui, sobretudo quando conseguido por meios lícitos. E ao que parece, o bilionário norte-americano, que durante largos anos liderou a lista dos cidadãos mais ricos do mundo, fez a sua escolha: ajudar o mais próximo. Não importando em que parte do mundo se encontram.
Rica em recursos, infelizmente, África tem visto muitos dos seus projectos e suas gentes alimentados por indivíduos e instituições dos outros lados do continente. São estes, muitos dos quais empresários de renome, estudiosos, artistas e desportistas, que vão permitindo que milhares de cidadãos consigam ver as suas vidas salvaguardadas e mantida vivas as esperanças de que um dia possam vir a ter um futuro melhor.
Assim como Gates, praticamente integrando a velha guarda de bilionários e milionários, vai nascendo, também, uma nova geração de africanos que, através da filantropia, constroem escolas, campos de futebol, fábricas, igrejas e outras infra-estruturas para os seus irmãos no continente.
Alguns nos seus países de origem, mas outros naqueles espaços em que a situação social exige mais e os corações destes bons cidadãos – africanos e de outras partes do mundo – acabam por tocar e anuir. A verdade é que muitos destes filantropos nem são mais ricos do que muitos políticos e indivíduos que lhes foi confiada a gestão de recursos dos seus países, mas preferiram encaminha-lós para o exterior sem que possam prestar a mínima assistência aos seus próprios compatriotas.
Numa fase em que os Estados Unidos da América, um dos principais financiadores de agências e da organização das Nações Unidas preferiu reduzir apoios – e se afastar da OMS e outras – o apoio de Gates e, seguramente, outros que lhe vão seguir o exemplo enche de alegria qualquer cidadão africano que necessita verdadeiramente de apoio.
E não ficamos indiferentes a isso. Pena é que existem em África e grande parte dos seus países cidadãos verdadeiramente ricos em termos financeiros e patrimoniais, mas pobres de espírito por não conseguirem sequer doar o mínimo do que amealharam ao longo dos anos aos seus compatriotas, alguns dos quais vegetam em contentores de lixo à procura de bens para o sustento, incluindo alimento até deteriorado para matar a fome.
E muitos deles conseguiram as suas fortunas sacrificando o futuro destes miseráveis de hoje delapidando o que era público e suposto ser de todos nós.