Manter sempre vivo o nome dos Bakama, como identidade cultural do Povo de Cabinda, e combater a violação e a invasão dos locais e santuários sagrados pertencentes à localidade do Tchizo, o berço da cultura na província, são tarefas prioritárias a serem implementadas pelo novo líder dos mascarados
Manuel Morais Lola, de 35 anos de idade, foi o candidato escolhido para substituir o malogrado “ntomu si” e líder dos Bakama do Tchizo, Vicente Manguébele, falecido em 2022 com 77 anos.
Aliás, a escolha não podia ser outra, porque o cargo é assumido por um familiar directo da mesma linhagem, ou seja, por um filho ou sobrinho (filho da irmã), atendendo ao princípio da sucessão matriarcal.
Por isso, Manuel Morais Lola foi entronizado no cargo de ntomu si (sacerdote tradicional) e líder dos Bakama, a maior expressão cultural da província, por ser sobrinho de Vicente Manguébele, este que substituiu o pai, Ngimbi Nkonko, falecido em 1986 aos 92 anos.
O jovem Manuel Morais Lola carrega agora nos ombros a responsabilidade de trabalhar para preservar e manter o nome dos Bakama sempre vivo como identidade cultural do povo de Cabinda.
Refira-se que os Bakama são uma instituição secreta com poderes de amaldiçoar e intercedem junto dos antepassados para apaziguar e regular os conflitos que afectam os sagrados valores éticos, morais e culturais.
O jovem líder propõe combater a violação dos rituais tradicionais, resgatar os locais e santuários sagrados vandalizados, bem como preservar o cemitério dos nobres do Tchizo. Enumerou como locais ou santuários sagrados a preservar o “Libanga li mpu, o Lili vueza, Tifu e a histórica árvore N’Sanda.
Manuel Lola explicou ao jornal OPAÍS que Libanga li mpu era o santuário sagrado e local histórico onde o Rei Muatchizo Kongo se encontrou com a Sereia Lussunzi para receber dela as instruções aquando da constituição dos Bakama.
Neste local, Muatchizo recebeu igualmente o Regulamento, uma espécie de código de ética, que define as regras da actuação e da existência dos Bakama. Lili vueza era o local consagrado onde os pescadores iam buscar as crenças para ter êxitos na sua actividade, enquanto Tifu era o local sagrado onde os camponeses também iam buscar as crenças para que houvesse mais produção agrícola nos campos.
Debaixo da frondosa árvore mística N’Sanda decorria a cerimónia tradicional mbumba mbitika, um ritual obrigatório para castigar uma rapariga que se engravidasse sem, no entanto, entrar na casa de tintas. “A nossa missão é resgatar esses locais e voltar a consagrá-los para servirem de monumentos históricos de forma a resgatar aquela mística tradicional que existia no Tchizo”, afirmou Manuel Morais Lola.
Para resgatar a mística dos Bakama, o nosso entrevistado defende, numa primeira fase, o retorno de algumas normas deixadas pela Sereia Lussunzi que hoje já não são obedecidas.
“Apesar dos tempos modernos em que vivemos com a globalização, estamos a estudar os melhores métodos para resgatar aquilo que são as principais leis tradicionais deixadas pela sereia Lussunzi para devolvermos a mística dos Bakama e mantermos o bom nome dessas figuras que são a base da identidade cultural da província de Cabinda.”
Por: Alberto Coelho, em Cabinda