A leitura é um dos pilares fundamentais da educação. Mais do que uma simples habilidade mecânica de decodificar palavras, ela representa a capacidade de interpretar, refletir, criticar e agir a partir do conhecimento adquirido.
No contexto do Complexo Escolar n.º 108 do Kingombo, discutir a compreensão leitora é colocar em pauta uma das maiores demandas da educação atual: formar leitores competentes, críticos e participativos, capazes de interagir com o mundo de forma consciente e transformadora.
A compreensão leitora não vem por si, é preciso um trabalho sistemático para levar os alunos a começar a entender os textos que leem. Quer na aquisição da compreensão leitora, quer na recuperação dos alunos que têm a compreensão leitora não desenvolvida, o professor que é, ou será, deve ter estratégias para trabalhar a compreensão leitora dos alunos.
Sustentando -me na Teoria da Magda Soares ( 2003) – em letramento: um tema em três géneros “ , a autora diferencia alfabetização de letramento e mostra que desenvolver a compreensão leitora exige práticas sociais de leitura significativa e constante.
Nos últimos trimestres , percebi que muitos dos nossos alunos apresentam dificuldades na interpretação de textos simples, o que repercute negativamente em todas as áreas do conhecimento. Ao aplicar exercícios de leitura ou mesmo ao propor actividades interdisciplinares que envolvam análise textual, muitos alunos se perdem nas entrelinhas, não conseguem captar a intenção do autor, fazer inferências ou relacionar a leitura com o seu cotidiano.
Isso revela não apenas uma lacuna no processo de ensino-aprendizagem, mas também um reflexo das condições socioeconômicas, culturais e pedagógicas que os cercam. Grande parte desses alunos vem de famílias com acesso limitado à cultura escrita.
Em casa, o incentivo à leitura muitas vezes inexiste, não por falta de vontade, mas por ausência de recursos e de tempo. Muitos pais ou responsáveis não tiveram oportunidade de concluir os estudos, o que gera um ciclo de baixo letramento.
Acrescente-se a isso a escassez de materiais de leitura em ambientes familiares — poucas casas possuem livros, jornais, revistas ou até mesmo acesso à internet de qualidade. Esse ambiente pouco estimulante compromete o desenvolvimento da leitura como prática social.
Na escola, apesar dos esforços dos professores, os desafios persistem. O número elevado de alunos por turma, a carência de materiais didáticos atualizados, a infraestrutura limitada e o tempo insuficiente para o acompanhamento individualizado são obstáculos reais.
No entanto, mesmo diante dessas dificuldades, é possível e necessário pensar em estratégias eficazes que promovam a compreensão leitora de maneira significativa e prazerosa. Uma dessas estratégias é o uso de metodologias ativas e lúdicas que envolvam os alunos na construção do saber.
Outro ponto fundamental que eu considero importante é a formação contínua dos professores. Saber ensinar a ler e interpretar é uma arte que exige actualização, reflexão e troca de experiências.
Oficinas, grupos de estudo, seminários internos e intercâmbio de práticas pedagógicas devem fazer parte da rotina do complexo ,estimulando os professores a inovarem em suas aulas e a compreenderem melhor as dificuldades específicas de seus alunos.
Não podemos esquecer também da importância da avaliação diagnóstica. Antes de desenvolver qualquer proposta de intervenção, é preciso conhecer o nível real de compreensão leitora dos alunos. Avaliações simples, como leitura em voz alta, resumo oral ou escrito, produção de texto ou interpretação de imagens, já fornecem dados valiosos sobre os pontos fortes e fracos de cada aluno.
Com base nisso, é possível planejar ações mais eficazes e personalizadas. Além do trabalho pedagógico, o Complexo escolar precisa construir uma parceria com a comunidade local ( Kingombo) para promover rodas de leitura com os pais, palestras sobre a importância da leitura no ambiente familiar, campanhas de arrecadação de livros e projetos intergeracionais (como avós contando histórias) são formas de aproximar a leitura da vida real dos alunos. A compreensão leitora, afinal, é uma competência que transcende os muros da escola e deve ser cultivada em todos os espaços sociais.