O presente artigo funda-se a partir da leitura cognitiva sobre a necessidade funcional, das línguas nativas na expansão do livro ou ainda o livro na elevação das línguas como mecanismo de afirmação ontológica.
Daí que, segundo Robert Escarpit, em Literatura e Sociedade, “Na literatura, a palavra é vencedora do tempo e do espaço” (1973, p.:46) Compreende-se aqui a literatura como uma instituição que lida com o livro e a língua, neste caso, as nativas, na construção do imaginário angolano.
Pois, as línguas nativas constituem-se como base de todo pensamento filosófico, dialeto e cultural do tecido cognitivo angolano.
Ora, as línguas nativas não devem ser encaradas apenas como lugar da fala dos menos esclarecidos, como objecto de passatempo, como algo de consumo espontâneo.
Pois, as línguas nativas representam a continuidade e a cosmovisão cosmopolita, portanto, tê-las em livros perspectivase o reascender.
Assim, tanto as línguas nativas e o livro apresentam as dimensões social e cultural. Consideramos ainda que o livro como suporte das línguas nativas subscrevem-se no campo da dialéctica.
enquanto material garante o transportar circular e milenar da palavra. Logo, embora as línguas nativas como palavra oral, suas regras, dicotomizam da escrita.
Neste sentido, não se pode pensar em línguas nativas, isto é, a sua transição à escrita sem o rigor do ensino linguístico na perspectiva angolana.
Adendamos, que não se deve marginalizar as línguas nativas sob o oráculo do fatalismo. Isto é, para a realidade angolana a marginalização das línguas nativas implica também violência simbólica à pluralidade cultural e o significado da palavra à luz do signo imaginário que se traduz a partir da gramática natural.
Por exemplo, Robert Escarpit sublinha que “No século XIII, grande época do livro iluminado, achou-se como na China o meio de fazer coincidir os três valores literários: semântica, a estética dos sinais, a palavra” (1973, p.:47).
Verifica-se o debate sobre o fulcralismo das nossas línguas que se vincula ao conceito de nação. Por exemplo, José Carlos Venâncio, em Maka – Revista de Literatura e Artes, “A nação foi então entendida como uma forma de enquadramento identitário e político a prevalecer sobre os demais referentes passíveis de gerar integração social e identitária” (2011, p.:56).
Por ora, a retórica que se levanta em função do transcrito, se os elementos essenciais identitários são as línguas, como caracterizar o livro como uma cadeia de conhecimento que serve as línguas como fundamentalista na sua afirmação.
Aproveitamos para predizer que as línguas são seguramente a reserva de todo manancial da existência humana de uma povo.
Logo, escrever, entende-se aqui, sistema de ensino e literaturas, nas línguas nativas implícita a continuidade da nossa história, da nossa antropologia e da nossa humanidade como seres ontológicos.
Por: HAMILTON ARTES