É no útero da mulher que há meu dormitório . nele há anos que não vejo o caminho para encontrar o sono. às manhãs, há um forno no corpo dos homens mecânicos a produzir sons que me ferem ouvidos. culpe-se a mulher mãe da ousadia. culpe – se o ESTADO, culpe-se o pai, culpe-se os irmãos ou deve-se culpar também os inquilinos(?) . são as mulheres que mais têm um relógio longo de com eles passar (;)
Esclareço:
O homem ofende porque a mulher fica distante de tudo: distante da casa, da igreja, da educação e dos pontapés —necessários também. a mulher está ali parada no bar. parada na rua à procura de oxigênio. parada no beco. parada nos jogos que batotam a vida da gente.
mais tarde, tem a notícia nos ouvidos e a única oração que sai do seu dicionário, até agora, é repetida às tantas vezes: deixa só, ainda é criança! foi assim que, segundo a história da humanidade, o homem ficou caos (;) E quando o caos se hospeda no abdômen — país nosso corpo também — noite é relógio de cantar gritos. sempre quis ter minha própria caverna e nela decorar tudo que me fosse favorável. aí, sim, a lucidez faria de mim um homem vaidoso na escolha das coisas à minha volta.
o lugar que me encontro é órfão de tudo quanto não me descreve a estabilidade , por isso tenho no calendário os dias para contar o caos que se vai instalando na tabuada da multiplicação (;) Não escrevo palavras só para fingir a poesia no tempo, escrevo para terminar na mesma paragem : costurar meu “eugrafia”, no tempo e no lugar.
sobre o tempo, percebo ter muito a dar a esses jovens um caderno escrito nele palavras que costuram a vida. até ontem, se eu não esteja a semear praga na vida de alguém, a quem não tenha ainda a geografia apontando para o caminho certo. aponta-se aqui a razão dos caminhos com imensas divagações . meu será(?)
Meu caos entrelinhas, vida ou parada cardíaca, faz-me apressar o relógio e os passos que me colocariam numa corrida logo pela madrugada para não mais na cabeça ter a sentença «o país obriga – me a fingir estar bem».
tenho a vida no meu bloco de notas toda ela encruzilhada. há tantos acentos tónicos que não foram colocados nos seus dividos lugares. tudo que escrevo agora é um manifesto reflitido numa balbúrdia assente bem aqui na massa cinzenta, no estômago e até mesmo nos testículos. desculpe, palavra nenhuma pronunciada aqui ofende alguém (;) E no parágrafo que me fecha o texto, sinto barulho no estômago já se enfastiar comigo. nunca fui a pessoa certa para sempre atender os pedidos na hora.
os homens custureiros do oxigênio chamam isso de «dor de estômago». e eu não duvido do diagnóstico. quantas vezes acordei para jogar alguma coisa quente no organismo e na hora certa (?) — resposta: às poucas vezes. quem causou isso se não for nosso estado mesmo porque o lugar aqui não se conhece a paz nas acções? amanhã, com certeza, terei que ouvir outra canção a ferir meus ouvidos, porque não há dormitório sob meu comando. contudo, repete – se o verso, culpe-se a mulher mãe da ousadia e do estado, nosso ESTADO.
Por: ACVayenda
*CEO da Só Crónicas & Cronistas