OPaís
Ouça Rádio+
Ter, 18 Nov 2025
  • Política
  • Economia
  • Sociedade
  • Cultura
  • Desporto
  • Mundo
  • Multimédia
    • Publicações
    • Vídeos
Sem Resultados
Ver Todos Resultados
Jornal O País
  • Política
  • Economia
  • Sociedade
  • Cultura
  • Desporto
  • Mundo
  • Multimédia
    • Publicações
    • Vídeos
Sem Resultados
Ver Todos Resultados
Ouça Rádio+
Jornal O País
Sem Resultados
Ver Todos Resultados

Os arquétipos cágado e coelho em Ungende de Sipitali – simbolismos e um discurso axiológico

Jornal Opais por Jornal Opais
7 de Outubro, 2024
Em Opinião

Entre os escritores benguelenses da nova vaga, destaca-se Job Sipitali, autor que inicia a sua vida literária em 2017 com a publicação do poemário Raízes cantam. Por este facto, no cenário literário benguelense, Sipitali dispensa apresentações, no entanto, numa espécie de sitz im lebem fotográfico convém asseverar que o autor é natural de Benguela, município do Cubal, mestre em Ensino da Língua Portuguesa pelo ISCEDHuíla e membro do Movimento Litteragris.

Poderão também interessar-lhe...

China e o caminho da modernização: Olhares a partir de Angola

O povo e o “gosto” pela autocomiseração

A felicidade sob a tirania da visibilidade (I)

Além de publicações em antologias como Entre a lua, o caos e o silencio: Flor (2021), possui presença na Revista de Crítica Literária Mayombe e ,em 2017, com a obra Raízes Cantam foi congratulado com o Prémio Literário Jovens da Banda.

Em modo de continuidade da vida literária, o autor lança, em 2024, a sua segunda obra intitulada Ungende, trazendo ,com essa, à ribalta um género pouco explorado entre os novos autores, a fábula.

Ungende constitui um receptáculo de narrativas curtas com aspectos simbólicos e axiológicos significativos próprio da Literatura Oral e a sua raridade não se reduz ao facto de explorar o género fábula mas também por ser uma obra bilingue, umbundu-português, levando-nos a inferir que se trata de um trabalho etnográfico sobre a epistemologia umbundu.

Este intercâmbio entre a etnografia e a literatura não é um fenómeno novo, já que para além do autor em causa, Patissa, Raul David e Kapitiya são exemplos de escritores benguelenses que retratam a cultura umbundu, apresentando etnemas em um discurso literário e descrevendo, assim, o modus vivendi dos povos ovimbundu, principalmente, os benguelenses; deste modo, com esta obra, Sipitali torna-se o herdeiro natural de Francisco Kapitiya, autor igualmente de uma riquíssima obra de fábulas, O cágado nas fábulas africanas.

Reitero, a obra Ungende constitui uma valorização da cultura e da pedagogia do povo ovimbundu, daí o autor preferir a língua umbundu para intitular a obra, Ungende, lexema umbundu que significa viagem, peregrinação.

Destarte, a presente obra deve ser estudada como um contributo significativo da Literatura Oral, logo o nosso escopo é descrever os arquétipos cágado e coelho muito frequentes nas fábulas africanas, na oratura, e apresentar alguns aspectos axiológicos e simbólicos que deles podem advir.

A Literatura Oral faz recorrência, normalmente, a arquétipos, figuras representadas por animais, para ensinar determinados valores ao ser humano, cada um deles possui o seu específico simbolismo, observando-se nomes de animais em vários contos, mitos, lendas, fábulas etc. e são várias vezes usados pelo narrador griot como meio de identificar o ser humano em relação a outros seres vivos, ocupando um lugar importante, representando um defeito, uma qualidade, um comportamento moral ou social.

Tal comportamento, actuação caracteriza-se pela constância, ou seja, mudam-se os espaços, os enredos, o tempo, mas a psique, a atitude dos animais permanecem as mesmas, por isso associa-se à Teoria dos Arquétipos, fundada pelo psicanalista suíço Carl Gustav Jung na Época Contemporânea, apesar de ser um conceito já explorado na Antiguidade Clássica; segundo o autor, a ideia de arquétipo “ indica a existência de determinadas formas na psique que estão presentes em todo tempo e em todo lugar.” (Jung: 2014, p. 51-52) Em Undenge, Sipitali explora diferentes arquétipos, porém cágado e coelho são os mais recorrentes, já que o cágado aparece quatro vezes e o coelho três, precisamente, nas seguintes fábulas: O Camaleão; O Cágado e o Coelho; Pensamentos, para o caso do Cágado e O Coelho; O elefante e O Cágado e o Coelho, para o último.

Amiúde, os animais lebre e camaleão são usados para subistituir os arquétipos Cágado e Coelho, respectivamente. Em Undenge, a representação da pedagogia umbundu, o arquétipo cágado é semanticamente antónimo de coelho, aparecendo cada um em momentos diferentes nas fábulas.

A título de exemplo, ambos arquétipos aparecem na fábula “ O cágado e o Coelho” (Sipitali: 42-43) em que o narrador griot apresenta primeiro o cágado como uma figura sábia e mais tarde o coelho com a sua astúcia e esperteza, repare « o Cágado testando a inteligência dele, subiu a uma palmeira.

Ali, contemplava a natureza, transmitia a tradição do céu a outros animais e dava-lhes frutos. Nesse convívio amoroso, surgiu subitamente o Coelho. Olhou para o Cágado e os animais que saltavam no chão.

Em seguida, pegou no machado. Cortou a palmeira. Satisfeito, aproxima-se do Cágado e pergunta-lhe: – como subiste ali? O Cágado que já quis se livrar do Coelho, sabiamente, diz-lhe: – para se subir rápido a uma palmeira, tem de se partir de uma cova a correr.

O Coelho, sem pensar duas vezes, saíu dali a rir. Entrou numa cova negra. Caíu na boca de leões ferozes.» o cágado, por ser caracterizado como lento, viver muitos anos e usar a sua carapuça como abrigo, é usado para simbolizar a estabilidade, a organização, a experiência , enfim a sabedoria, daí , em determinadas decisões os seus resultados são mais definitivos, longínquos.

Por constituir esta figura muito ligada à razão e à experiência, aparece em inúmeras fábulas, contos, canções como convidado para resolver os grandes problemas do reino animal.

As pessoas que possuem essas características são associadas ao cágado, como os Mais-velhos, que na cultura ovimbundu e grupos vizinhos são muito respeitados, tornando fértil o surgimento de adágios que valorizam a senilidade, como “ okulu ondaka” ( o Mais-velho tem a palavra).

O cágado é, portanto, o arquétipo do ajuizamento, da sabedoria e a sua actuação nas fábulas é rica em axiologia, ensinando vários valores como a temperança, o respeito, a sabedoria, mansidão, a razão etc.

O coelho é um animal que se reproduz rápido, ágil, capaz de fugir facilmente dos predadores, realiza as suas actividades mais à noite que no período diurno, a sua aparência dá o ar de um animal muito atento devido aos seus olhos esbugalhados direccionados a todos os lados e orelhas em posição vertical; todas essas características físicas e psicológicas permitiram que o animal coelho fosse usado como um arquétipo em contos, fábulas, provérbios africanos (umbundu) para simbolizar, na epistemologia umbundu, a rapidez, a velocidade, astúcia, inteligência, esperteza.

O arquétipo coelho é convidado também para dar solução em determinados problemas do reino animal, no entanto, com resultados pouco duradouros e sempre fraudulentos. Veja-se, por exemplo, a atitude do coelho na fábula “ O Elefante” « No princípio do mundo, um elefante caçador apanhou uma cabra do mato. Pensou em vender a carne desse animal. Pelo caminho, cruza-se com o coelho: – Coelho, estou a vender carne de cabra do mato.

O Coelho verifica a carne. Em seguida ,diz: – Isso é carne de cão, ó Elefante!… – fumaste, né? Isto é carne de cabra do mato. Não compras, deixa. Disse o Elefante, avançando. (…) À medida que avançava, foi pensando: cruzei-me com o Coelho, disse-me que isto era carne de cão. O Rato Monteiro disse-me a mesma coisa. Epah , isto, então, é mesmo carne de cão … Dito isso, deitou fora a carne.

Afinal o Coelho e o Rato Monteiro seguiam o Elefante secretamente. Apanharam a carne e comeram-na.» como vemos em ambas fábulas, o arquétipo coelho figura-se como a representação da astúcia , avareza, que se apresenta como esperto, mas pouco sábio.

Este arquétipo juntamente com a figura do cágado criam a dicotomia sabedoria e esperteza, nas comunidades bantu, dando-se sempre à primazia a sabedoria.

Os dois arquétipos usados em uma fábula simbolizam a necessidade de ser humilde e sábio, como o cágado, o arquétipo do auto-domínio, longividade, sabedoria.

Se podemos entender que o cágado representa figura do Mais-velho, experiente e sábio penso que não seria falacioso, entender o coelho como a representação da figura jovial, imberbe; usa-se ambos arquétipos para moralizar, ensinar de terminados valores : astúcia, esperteza (arquétipo coelho); sabedoria, experiência (cágado).

 

Por: Fernando Tchacupomba

Jornal Opais

Jornal Opais

Recomendado Para Si

China e o caminho da modernização: Olhares a partir de Angola

por Jornal OPaís
18 de Novembro, 2025

Era uma manhã cinzenta em Luanda – parece que o cacimbo não pretende ir embora – quando me sentei para...

Ler maisDetails

O povo e o “gosto” pela autocomiseração

por Jornal OPaís
18 de Novembro, 2025

Desde tenra idade aprendi que o saber não ocupa lugar, compreendi que o aprendizado serve sempre de guia para o...

Ler maisDetails

A felicidade sob a tirania da visibilidade (I)

por Jornal OPaís
18 de Novembro, 2025

Até que ponto o desejo de mostrar o que vivemos não nos faz viver menos o que mostramos? A contemporaneidade...

Ler maisDetails

Carta do leitor: Senhor André Ventura, Angola é um país digno!

por Jornal OPaís
18 de Novembro, 2025
DR

Ilustre coordenador do jornal OPAÍS, votos de uma boa terça- feira. Escrevo a partir do município de Cacuaco para tratar...

Ler maisDetails

Luanda acolhe 10.ª reunião das Zonas Económicas de África

18 de Novembro, 2025

Angola vai receber 500 milhões de doses de vacinas da GAVI

18 de Novembro, 2025

Angola e Bélgica abordam questões de interesse bilateral

18 de Novembro, 2025

Tribunal Supremo retira quatro dos 11 crimes a Isabel dos Santos

18 de Novembro, 2025
OPais-logo-empty-white

Para Sí

  • Medianova
  • Rádiomais
  • OPaís
  • Negócios Em Exame
  • Chiola
  • Agência Media Nova

Categorias

  • Política
  • Economia
  • Sociedade
  • Cultura
  • Desporto
  • Mundo
  • Multimédia
    • Publicações
    • Vídeos

Radiomais Luanda

99.1 FM Emissão online

Radiomais Benguela

96.3 FM Emissão online

Radiomais Luanda

89.9 FM Emissão online

Direitos Reservados Socijornal© 2025

Sem Resultados
Ver Todos Resultados
  • Política
  • Economia
  • Sociedade
  • Cultura
  • Desporto
  • Mundo
  • Multimédia
    • Publicações
    • Vídeos
Ouça Rádio+

© 2024 O País - Tem tudo. Por Grupo Medianova.

Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você está dando consentimento para a utilização de cookies. Visite nossa Política de Privacidade e Cookies.