A maioria dos radiologistas do país enfrenta sérias dificuldades devido à falta de condições de protecção e segurança radiológica, numa altura em que os avanços tecnológicos fazem o seu impacto, segundo dados da Associação Nacional das Ciências e Tecnologias das Radiações de Angola (ANCTRA)
A revelação foi feita à margem do II Congresso desta organização que reuniu, recentemente, em Cabinda, 148 especialistas de radiologia para analisar os problemas que afectam a classe, sobretudo os relacionados à protecção e segurança radiológica dos seus profissionais. “Verificamos serviços de radiologia a trabalhar sem monitorização, ou seja, a falta de instrumentos importantes para avaliar até que ponto o profissional absolveu uma certa quantidade de radiação para, a partir daí, serem tomadas medidas quer clínicas como administrativas”, disse Silvestre Domingos, porta-voz do evento.
O radiologista explicou que os problemas discutidos há dois anos, no primeiro congresso, realizado em Benguela, continuam a ser os mesmos e se resumem, sobretudo, na falta de condições de trabalho. “O profissional de radiologia trabalha com radiações, um agente evasivo que provoca danos ao organismo humano, e, para tal, devemos exercer a nossa actividade em condições de protecção e segurança radiológica”, defendeu.
Já Pedro Silvano, representante da ANCTRA em Cabinda, que fez as honras da casa, afirmou que o sector se debate com vários problemas que têm a ver com a protecção e segurança dos profissionais, da população e do meio ambiente. Isto, segundo acrescentou, tem provocado que muitos técnicos de radiologia incorram em efeitos biológicos de radiações, de tal maneira que muitos deles apresentam problemas de infertilidade, tumores e cânceres diversos.
“Numa altura em que se fala da humanização dos serviços de saúde, é importante realçar que os profissionais de radiologia, mesmo com insuficiência de equipamentos e medidas de radioprotecção, ainda assim aceitam colocar as suas vidas em risco para salvar a vida de outras pessoas”, referiu Pedro Silvano.
Horas de trabalho e os efeitos biológicos da radiação Por outro lado, o porta-voz do evento, Silvestre Domingos, fez uma incursão sobre a necessidade de enquadramento de mais técnicos na área de modo a diminuir as horas de trabalho dos profissionais que têm relação com os efeitos biológicos produzidos pela radiação.
“Precisamos de ter mais técnicos a trabalhar, daí termos esta- do a apelar às entidades de direito para que, nos próximos concursos públicos, pensem na admissão de mais profissionais para permitir a rotação dos quadros de modo que estes estejam mais distantes dos efeitos da radiação.” O presidente da Associação Nacional das Ciências e Tecnologias das Radiações de Angola, ANCTRA, Sérgio Zua, mostrou-se preocupado com as dificuldades apresentadas pelos actuais técnicos de radiologia de manusearem de equipamentos com tecnologia muita avançada.
“A tecnologia tem sido da última geração, mas a média de idade do nosso quadro de funcionários ronda os 50 e 55 anos de idade e essa tecnologia é muita avançada”, justificou, tendo adiantado que existe uma geração de novos formandos em radiologia aptos para trabalharem na área, mas que por via de concursos públicos não conseguem entrar. “São jovens que dominam mui- to as actuais tecnologias, e, infelizmente, na nossa área nunca nos dizem a taxa de ingresso. No último concurso público recebemos apenas 90 técnicos, número in- suficiente para as necessidades do sector.”
Lamentou o facto de profissionais com longos anos de experiência serem transferidos para os novos hospitais que estão a ser inaugurados, mutilando assim o grupo de efectivos dos hospitais já existentes. “Nós não podemos continuar a assistir à retirada de quadros em unidades hospitalares para suprir o défice de novos hospitais. Isto é um problema muito grave”.
Refira-se que o evento, que decorreu em Cabinda, durante três dias, sob o lema “Radiologistas unidos pela valorização e reconhecimento da classe”, contou com a presença de 70 especialistas de Cabinda e 78 provenientes de outras províncias do país. Estiveram em debate temas relacionados à responsabilidade dos radiologistas, ética e a deontologia profissional, exames, protecção, métodos e técnicas modernas usadas nas unidades de saúde para o maior e melhor resposta às necessidades dos utentes.
Governo apela à aposta na formação especializada
A governadora de Cabinda, Mara Quiosa, que fez a abertura do evento, considerou que o congresso serve para aumentar os conhecimentos dos técnicos que intervêm no sector, quer no âmbito público como também privado, cuja aprendizagem desejamos que possa vir a ser administrada através de um maior domínio dos processos e inovações tecnológicas cada vez mais modernos, resultando em ganhos no atendimento e assistência à população.
Mara Quiosa apelou às instituições de formação especializada, designadamente as escolas técnicas superiores e os hospitais, para o reforço na formação de radiologistas, de- vendo, entretanto, apostar na qualidade e congregar sinergias com as organizações similares, assim como interagir com a Ordem dos Médicos de Angola para suprir o défice de especialistas em radiologia.
“Essa necessidade de reforços e de organizar o sector acontece pelo facto de a radiologia continuar no topo dos rápidos avanços tecnológicos para diagnóstico de doenças e lesões, acrescentando inúmeros benefícios à medicina, sendo utilizada para orientar visualmente o tratamento de doenças cardíacas e acidentes vasculares cerebrais, assim como para rastrear doenças como o câncer da mama com diagnóstico precoce e consequentemente a redução da taxa de mortalidade”, concluiu Mara Quiosa.