Pessoas acometidas por cancro têm sido forçadas a trabalhar após sessões de quimioterapia, por empresas, no país, com as quais mantêm um vínculo contratual. A falta de informação sobre os seus direitos leva doentes oncológicos a preferirem antes trabalhar debilitados do que perder o emprego
A denúncia foi feita pela presidente da Liga Angolana Contra o Cancro (LACC), Luzimira João, que, sem precisar os dados, em entre- vista ao jornal OPAÍS, revelou serem inúmeros os casos regista- dos pela sua organização a darem conta de doentes com cancro forçados a trabalhar logo após o tratamento. Nestas situações, avançou, as pessoas em causa têm medo de perder os seus empregos.
A realidade afecta muito mais os grupos de doentes oncológicos em fase inicial da doença, que, por apresentarem um quadro razoável, têm três a sete dias de intervalo entre as sessões de quimioterapias. O facto agrava-se mais ainda quando o profissional que assiste o paciente não tem em atenção a necessidade de assinar uma baixa médica a favor do doente. Por outro lado, a responsável avançou que, embora a situação seja preocupante, a LACC não tem poder de intervenção por não existir legislação de apoio.
“Como não há informação, muitos não conhecem os seus direitos e, mesmo não estando bem, preferem ir trabalhar com medo de perderem os seus empregos. Às vezes, os médicos mais atentos informam aos seus pacientes e passam baixa médica”, referiu. Para a presidente dessa organização, os casos que envolvem empresas nacionais e estrangeiras podem ser resolvidos se os funcionários envolvidos desenvolverem coragem para denunciar as situações de abusos por parte dos responsáveis dos grupos empresariais em causa.
Porém, lamentou, alguns pacientes, “infelizmente, com medo de perderem os seus em- pregos, preferem calar-se”, enquanto outros “preferem trabalhar, durante o tratamento, porque ao trabalharem se sentem úteis e com mais força para encararem a dura batalha que a doença por si só representa”. “Não existe uma legislação de protecção para os pacientes oncológicos. Tem mulheres a fazerem quimioterapia e a serem obrigadas a irem trabalhar depois de uma sessão de quimioterapia, porque as empresas não aceitam que um paciente oncológico não está em condições de ir trabalhar”.