Passados 13 anos, a Guiné-Bissau voltou a estar mergulhada em mais um novo golpe de Estado, após o que ocorreu a 1 de Fevereiro de 2022 e o mais cintilante, o do dia 12 de Abril de 2012, apadrinhado por Kumba Yalá, candidato do Partido PRS na época ao cadeirão presidencial. Kumba Yalá, pertencente à tribo Balanta, teve o apoio de António Indjai, ex-Chefe do EstadoMaior, e de Baciro Djai, ex-ministro da Defesa.
O articulista vivenciou! Era o Adido de Imprensa da embaixada de Angola naquele país. Ainda de memória fresca, recordo-me de naquela tarde ter ouvido numa estação de rádio, Kumba Yalá, dizer que “não haveria segunda volta” e horas depois ouviam-se os primeiros tiros, as ruas, embaixadas e representações de instituições internacionais eram cercadas de militares altamente armados.
As residências do presidente de transição Raimundo Pereira, por falecimento do ex-presidente Malamba Cai Sanhá, ocorrido a 9 de janeiro de 2012 em França, viramse invadidas por militares-comandos, e o cenário foi similar na residência do ex-primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior “Cadogo”.
Na época, Raimundo Pereira, presidente interino, e Carlos Gomes Júnior, primeiro-ministro, haviam sido sequestrados, presos e posteriormente tornaram-se “bagagem” por todos os cantos onde os golpistas fossem.
Um conjunto de sanções havia sido aplicado aos golpistas, sem contudo que eles sentissem tanto, por estarem mais habituados à vida em terras da Guiné-Bissau do que em outras paragens. O país passou para o controle dos militares. Estava efectivado o Golpe de Estado, em 2012.
As condenações da Comunidade Internacional não se fizeram esperar, a exemplo das que agora foram anunciadas, com mais ou menos palavras! Algumas teorias revelam que a consumação de um golpe de Estado tem sempre o aporte dos militares.
No caso presente, o que se registou na Guiné-Bissau foi uma encenação de teatro muito mal engendrada pelo presidente “deposto” Umaro Sissokó Embaló, daí que o primeiro-ministro do Senegal, Ousmane Sonko, tenha feito as declarações que fez e que não terão sido bem acolhidas por Embaló e que, de certa forma, terão pesado na tomada de decisão para rumar para o Congo, quando inicialmente tinha-se refugiado naquele país vizinho.
A posição do Senegal de não ter dado guarida a Umaro Sissoco, como violador do direito internacional, sou de opinião que deveria ser seguida por todos, quer fossem da região ou não. O suposto golpe de Estado ocorre num momento em que a própria Guiné-Bissau está na presidência da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) até 2027.
O poder cega! É um autêntico paradoxo um presidente “deposto” ter recebido telefonemas, ter ele mesmo comunicado a alguns órgãos de comunicação social o golpe de Estado. Mas, horrento, foi Embaló ter indicado o seu substituto, General Horta Nta Na Man, para presidente em exercício da Guiné-Bissau e ter nomeado alguns ministros.
Ocorre-me questionar com que legitimidade ele o fez? Quem os irá reconhecer? A tentativa de golpe de Estado de 2022 tinha tido lugar num momento em que a sub-região da CEDEAO vivia memórias recentes de golpes de Estado no Mali no dia 24 de maio de 2021 e no Burkina Faso, no dia 23 de janeiro do corrente ano, e sem perder de vista outros conflitos latentes na Costa do Marfim, na Nigéria e na Gâmbia.
A Guiné-Bissau, pequeno país localizado na África Ocidental, faz fronteira a norte com o Senegal, a este e sudeste com a Guiné Conacri e a sul com o Oceano Atlântico. O território guineense abrange 36125 km² e tem uma população a rondar os dois milhões e meio de habitantes, de acordo com os dados do Censo de 2009. Reza a história que aquele país membro da CPLP e dos PALOP tornou-se mais conhecido por ser useiro e vezeiro em Golpes de Estado, um dos quais culminou com a morte do presidente João Bernardo Nino Vieira.
A Guiné Bissau é igualmente assinalada pelos diferentes serviços de inteligência como um narco-estado, sendo considerada como um dos maiores corredores de droga, proveniente da América Latina com destino a Portugal, daí redunda frequentemente o clima de crispação entre o presidente da República e o primeiro-ministro, enquanto chefe do governo.
A história recente da Guiné-Bissau fica marcada com o facto de ter sido o ex-presidente José Mário Vaz “Jomav” o único que viu o seu mandato cumprido, porém com um recorde a nível de primeiro-ministro: nove no total, a média de um de seis em seis meses.
Por: Gaspar Florêncio
Doutorando em Relações Internacionais









