A Avenida Fidel de Castro, uma das principais vias de Luanda, transformou-se nos últimos anos num palco frequente de tragédias rodoviárias. Os números de atropelamentos e acidentes de viação nesta estrada continuam a crescer, alimentados por uma combinação de imprudência, falta de fiscalização, deficiência na iluminação pública e consumo excessivo de bebidas alcoólicas.
É urgente olhar para esta realidade com seriedade.
Diariamente, testemunha-se um cenário preocupante: pedestres a atravessar a avenida em locais impróprios, a poucos metros de passagens aéreas construídas especificamente para a sua segurança. Muitos saltam os separadores centrais com aparente normalidade, ignorando por completo os perigos que esta acção representa.
Este compor- tamento revela uma grave lacuna na educação cívica, mas também uma chocante indiferença perante o valor da vida humana. Não é raro encontrar cidadãos que, por pressa ou comodismo, preferem desafiar o trânsito em vez de utilizar as passagens elevadas. A frase da Polícia Nacional — “Mais vale um pé no travão do que dois no caixão” — devia também aplicar-se aos peões.
Sugere-se, por isso, uma adaptação dirigida a estes: “Mais vale esperar na passarela do que saltar para a morte.” A mudança de mentalidade deve ser uma prioridade nacional. Outro factor preocupante é a fraca iluminação ao longo de trechos importantes da avenida. À noite, a falta de visibilidade torna-se um perigo real tanto para condutores quanto para peões.
A ausência de luz compromete a capacidade de reacção dos automobilistas e torna os transeuntes praticamente invisíveis, especialmente quando vestem roupas escuras. A juntar a estes elementos, está uma das causas mais letais e evitáveis dos acidentes: o consumo excessivo de bebidas alcoólicas por parte dos condutores.
Muitos continuam a guiar sob o efeito do álcool, desrespeitando não só as regras de trânsito, mas pondo em risco a sua vida e a de terceiros. A ingestão de álcool reduz drasticamente os reflexos, o discernimento e a capacidade de controlo, sendo responsável por uma larga fatia dos acidentes registados na via.
Infelizmente, a fiscalização continua a ser insuficiente. A presença policial é rara e a aplicação de penalizações é inconsistente. Sem um sistema robusto de controlo, sem campanhas de sensibilização contínuas e sem acções educativas nos bairros e escolas, os comportamentos de risco continuarão a prevalecer. Com a aproximação de mais um feriado, onde se espera um aumento significativo do tráfego, torna-se essencial adoptar medidas urgentes.
A colocação de barreiras físicas mais altas ao longo dos separadores, reforço da iluminação, intensificação de operações stop para controlo de álcool e realização de campanhas educativas podem ser passos decisivos para travar esta tendência. A vida humana é um bem inestimável.
Não podemos continuar a aceitar a Avenida Fidel de Castro como um sinónimo de tragédia. Precisamos de mudar comportamentos, melhorar as condições de circulação e, acima de tudo, valorizar a vida. A responsabilidade é colectiva: das autoridades, dos condutores e dos peões. A hora de agir é agora — antes que mais nomes sejam adicionados às estatísticas.