A influência social é uma das habilidades mais estratégicas para o futuro. Não apenas no mundo corporativo, mas também no ecossistema da comunicação, do conteúdo e da construção de reputações.
Numa era em que algoritmos executam tarefas técnicas com espantosa rapidez, a capacidade de mobilizar pessoas, gerar adesão e construir consensos emerge como diferencial humano inegociável.
O Relatório Future of Jobs 2023, publicado pelo Fórum Económico Mundial, um estudo global que analisa como o mercado de trabalho está a evoluir e quais serão as principais tendências, profissões e competências nos próximos cinco anos (2023–2027) assegura que: quase um quarto dos empregos deverá mudar nos próximos cinco anos.
No entanto, o dado mais relevante não está apenas naquilo que vai mudar, mas sim no que permanecerá essencial, e, entre todas as competên- cias listadas como prioritárias, uma delas emerge com urgência e clareza: liderança e influência social.
Num tempo em que algoritmos fazem contas num abrir e fechar de olhos e ferramentas digitais produzem textos, imagens e cálculos com surpreendente eficiência, o que resta como diferencial verdadeiramente humano? A capacidade de mobilizar pessoas. A habilidade de inspirar equipas, de construir consensos em ambientes adversos, de comunicar com intencionalidade, escuta e empatia.
A liderança e a influência social tornaram-se, por mérito próprio, competências estruturantes para o presente e inegociáveis para o futuro. Ao contrário da liderança vertical, que se impunha pelo cargo e pelo passe, o que se exige hoje é uma liderança transversal, onde o poder se mede pela capacidade de gerar adesão, não pela hierar- quia. Profissionais que dominam a arte da influência social são, por natureza, articuladores.
São mediadores de confiança, intérpretes das dinâmicas sociais dentro das organizações, construtores de ambientes onde se pode discordar com respeito e convergir com propósito. A sua presença, ainda que por vezes discreta, é transformadora.
São estes profissionais que conseguem alinhar equipas em torno de objectivos comuns, mesmo em contextos de alta pressão. São eles que conseguem traduzir uma visão estratégica complexa em narrativas que fazem sentido para todos, do técnico ao director.
A sua influência não reside apenas na eloquência, mas na capacidade de estabelecer pontes humanas num ambiente cada vez mais dominado por métricas e ecrãs. Além disso, um colaborador com influência social ajuda a consolidar a cultura organizacional. Gera confiança, escuta activamente, evita ruído e antecipa conflitos.
É também fundamental nos processos de mudança, porque sabe como comunicar o novo sem desmerecer o que já existe. Não nega o passado, mas projecta o futuro com lucidez. E há um outro ponto decisivo: são esses profissionais que melhor representam a empresa dentro e fora dela. São os primeiros a serem ouvidos quando uma crise se instala e os últimos a abandonar a calma quando todos se deixam consumir pela turbulência.
A sua imagem torna-se, muitas vezes, extensão da reputação da própria marca. E isso não é pouca coisa. O seu contributo não se esgota aí. Quem exerce liderança com influência social forma outros líderes.
Não compete por luz, partilha-a. Reconhece talentos, orienta, dá feedbacks construtivos e celebra conquistas alheias como parte do seu legado. E essa postura, mais do que uma habi- lidade, é uma filosofia de acção. Um modo de estar no mundo e nas organizações.
O mais interessante e paradoxal nisto tudo é que, quanto mais nos aproximamos de soluções digitais para tudo, mais valorizamos aquilo que nenhuma máquina consegue replicar com autenticidade: presença humana, escuta generosa, leitura do ambiente, sensibilidade para o momento certo de falar ou calar.
Influência social não é popularidade. Não se trata de agradar a todos. Trata-se, sim, de ser uma referência confiável num tempo de sobrecarga informativa e ruído constante. É comunicar com consciência, representar com integridade e liderar com significado. Num país como Angola, onde os desafios organizacionais se cru- zam com as urgências sociais, formar profissionais com esse perfil é mais do que desejável, é estratégico.
O futuro exige-nos não apenas competências técnicas, mas competências relacionais de altíssimo nível. E isso não se constrói com cursos rápidos. Constrói-se com tempo, ma- turidade, auto-conhecimento e compromisso. A liderança e a influência social já não são um “extra” desejável no perfil de um colaborador.
São, cada vez mais, o seu núcleo. E é por isso que as empresas que desejam não apenas sobreviver, mas crescer com relevância, precisarão identificar, valorizar e cultivar este tipo de talento com a mesma dedicação que aplicam em tecnologia ou inovação.
POR: Jornalista e comunicólogo