A Farda Militar, mais do que um uniforme – a indumentária da Pátria – é o escudo visível de uma pátria viva. Cada botão, cada insígnia, cada costura embebe-se de sangue, suor e história. Quando um cidadão angolano enverga a farda das Forças Armadas Angolanas (FAA), não o faz apenas para exercer um ofício, mas para encarnar um compromisso transcendental com a Nação.
No tecido da farda se entrelaçam os fios da memória de uma Angola que sangrou para ser livre. A sua origem remonta ao tempo colonial, em que os uniformes eram símbolo da opressão. Mas, após a aurora da independência, em 11 de Novembro de 1975, a farda tornou-se um pendão de soberania, dignidade e sacrifício. Foi a veste do libertador, do guardião da paz, do irmão que se fez trincheira viva para proteger os indefesos.
O simbolismo da farda é o espelho do carácter de uma Nação. Quando ela é respeitada, a Pátria é respeitada. Quando ela é desprezada, também o são os alicerces da nossa soberania. O juramento à bandeira não é mero formalismo cerimonial. É um sacramento laico de renúncia e de entrega.
Ao erguer a mão direita e pronunciar, com voz firme, as palavras do juramento, o militar angolano consagra-se à Pátria com tudo o que é e tudo o que tem — até a própria vida. A bandeira nacional é o relicário das lutas ancestrais. O vermelho que nela flameja não é tinta — é sangue. Sangue dos mártires, dos combatentes tombados, das mães que perderam filhos no campo de batalha.
O preto é a terra mãe, berço do africano. O facão ou a catana e a engrenagem são promessas de trabalho, justiça e reconstrução. Ao jurar fidelidade à bandeira, o militar angolano jura à História, à Esperança, ao Futuro. Realmente, o Juramento à Bandeira é um pacto selado com a própria vida. Não há outro cidadão cujo contrato moral com a Pátria envolva tama- nho grau de abdicação.
O médico cura, o professor ensina, o juiz julga — mas o militar se oferece. Quando o clarim da guerra soa, o militar marcha. Não para conquistar glórias pessoais, mas para defender a dignidade nacional, mesmo que isso implique o desaparecimento do próprio nome nas trincheiras do esquecimento.
As campanhas e batalhas militares, como a do Cuito Cuanavale e outras ocorridas em outras regiões político-militares no nosso país, são monumentos silenciosos à bravura dos nossos soldados. Homens e mulheres que, anónimos ou condecorados, escolheram não fugir, não desistir, não negociar a liberdade nacional.
Sacrificaram juventudes, famílias, membros, e muitos, a vida. Em tempo de guerra, o militar defende o território. Em tempo de paz, defende os valores que mantêm esse território íntegro. Ele ergue pontes onde há fossos. Ele devolve dignidade onde houve ruína. Foi assim nas enchentes do sul de Angola em 2011, quando a farda trocou o fuzil pelo cobertor e os quartéis se tornaram refúgios.
O militar é, também, pedagogo do patriotismo. Pela sua ética, pelo seu rigor, pela sua contenção, transmite à sociedade civil lições de civismo, de resiliência e de fraternidade. A sua disciplina não é opressiva, mas formadora. A sua obediência é lúcida. A sua coragem é silenciosa, mas eloquente.
Ou seja: Sacrifício Silencioso e a Honra Incomparável. Entre todas as profissões, nenhuma outra impõe uma cláusula de sacrifício tão total. O militar jura servir mesmo em condições em que a lógica da auto-preservação clama pela fuga.
Ele jura manter- se firme quando o chão estremece e o céu se abre em fogo. O militar angolano, durante a longa guerra civil, não apenas lutou — ele sustentou a alma do país com as próprias mãos. Mesmo famintos, doentes ou feridos, continuaram. Mesmo órfãos, continuaram. Mesmo esquecidos, continuaram.
É incomparável a singularidade do Juramento Militar. O percurso histórico de Angola é indissociável dos seus filhos de fer- ro, os militares que mantiveram e mantêm o compromisso imortal. A independência não foi declara- da — foi conquistada. A soberania não foi oferecida — foi defendida. A paz não foi um milagre — foi uma construção dolorosa, tijolo a tijolo, por mãos que hoje tremem, mas ontem empunhavam armas com coragem.
Das matas do Mayombe, Bié e Cuando aos desertos do Namibe, do Cuanza-Sul às ruas de Luanda, os militares foram muro, ponte, escudo e luz. Os acordos de paz, como o de Luena, só foram possíveis porque atrás deles havia uma muralha de soldados que escolheram viver por todos nós, e morrer, se preciso fosse, por cada angolano. Respeitar o militar é respeitar o silêncio dos que não voltaram. É abraçar o filho órfão de guerra. É garantir que a paz, tão cara, não seja desperdiçada.
É ensinar aos mais jovens que a liberdade que hoje desfrutamos foi comprada com vidas. A farda não é uma vestimenta qualquer — é o manto sagrado da nossa República. A Angola que sonha crescer, de- senvolver-se, democratizar-se e florescer, deve isso àqueles que, em silêncio e honra, com botas gastas e corações firmes, abriram caminhos entre as balas para que hoje pudéssemos caminhar em liberdade. Porque a farda não se veste apenas no corpo — ela veste-se na alma.
E o militar não é apenas um profissional — ele é um patriota encarnado. Em resumo, fecho a minha reflexão dizendo que há alguém por detrás dos 50 anos de Independência de Angola: o militar fardado! Daí que, ao assinalarmos meio século da independência da nossa amada Angola, impõe-se, com veemência, reconhecer e enaltecer aqueles cuja presença silenciosa, mas determinante, susten- ta as colunas da nossa soberania, o militar fardado.
Por detrás dos 50 anos de liberdade, há um rosto muitas vezes anó- nimo, há um peito firme que resis- tiu à tempestade, há um corpo que se ofereceu em sacrifício, e uma alma que jurou fidelidade eterna à Pátria. É o militar que, vestindo a farda com dignidade e honra, enfrentou os desertos da guerra, suportou as angústias da incerteza e persistiu, mesmo quando a morte parecia inevitável.
A farda, mais do que um traje, é símbolo sagrado de compromisso absoluto. Cada costura carrega o peso da história, cada emblema recorda os caídos, cada botão evoca batalhas travadas não apenas nos campos de guerra, mas também nas trincheiras da recons- trução nacional.
O militar fardado é, pois, o guardião da nossa liberdade, o sentinela da paz, o esteio da República. Não há verdadeira independência sem aqueles que a sustentam com o sangue e com a vida. E em Angola, foi a coragem dos que empunharam as armas com honra, sob a bandeira rubra, negra e dou- rada, que tornou possível o sonho colectivo de uma Nação livre. São eles os heróis de ontem e os defensores de hoje.
São eles, silenciosos e estoicos, que garantem que o sol continue a nascer sobre uma An- gola una, indivisível e soberana. Honrar a farda é, por conseguin- te, honrar a Pátria. É reconhecer o valor imensurável dos que cami- nham lado a lado com a História. É elevar a memória dos combatentes ao lugar de reverência que merecem.
É ensinar às gerações vindouras que a liberdade tem nome, rosto e uniforme. Por tudo isso, neste cinquentenário da independência, que ecoe em cada recanto do país uma só verdade: Angola vive porque o militar fardado permaneceu de pé.