Dada a nossa realidade educativa, apresentamos breves considerações à volta da pergunta em epígrafe, considerando a opinião do Jornalista, Filósofo e Professor brasileiro Clóvis de Barros Filho, pertencente à Área de Ética da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, durante a entrevista ao programa “Espaço Ética”.
Questionado sobre o papel da escola e da educação, o professor respondeu o seguinte: “Eu acredito mesmo que pouco a pouco, fomos relaxando os níveis de exigências.
Eu tenho essa sensação, e porquê eu tenho essa sensação? Porque as aulas que eu conseguia dar no começo da minha vida profissional, no final da minha vida profissional, já não podia dar as mesmas aulas. Porquê? Porque elas requeriam uma capacidade de abstração que os alunos não tinham mais.
Então, podemos, enfim, resumindo a história, invés de termos uma melhoria do aluno, foi no sentido contrário. Um outro ponto curiosíssimo, quando comecei a dar aulas na USP, os alunos cobravam à leitura.
Professor! Não vai ter nada para ler hoje? E, no final do meu trabalho, os alunos relutavam, rechaçavam e não aceitavam uma exigência maior. Eu acabo de imaginar que vivemos numa sociedade, que, de uma maneira geral, não tem pela Escola um grande apreço”.
Do ponto de vista da Filosofia da Educação e da Sociologia da Educação, o que o Professor Clóvis apresenta, em certa medida, acaba por ser ou denotar um problema global, pois olhando para a realidade educativa angolana, semelhante perspectiva pode deduzir-se da seguinte publicação, na “rede social Facebook”, do escritor, Jornalista e Professor angolano José Luís Mendonça: “Está cada vez mais difícil ser professor nas Universidades Angolanas, pois os alunos não lêem, mesmo até texto de uma página.
Não há desafios para o professor”. As visões acima convergem num processo dialéctico que tem a Escola como instituição singular, onde são estabelecidas as relações sociais através de contextos sociais, tendo grande responsabilidade social, dada as circunstâncias e desafios contemporâneos das sociedades. Hoje, reflecte-se muito sobre a educação, mas pouco se fala sobre o real papel da escola na sociedade.
Esta visão encontra correspondência na Primeira Lei da Didáctica: os encargos sociais, a responsabilidade e relação da escola, educação e sociedade. Vista a questão a partir de outros ângulos, entendemos que, a partir da nossa realidade (a angolana), reformular os padrões da Escola torna-se importante porquanto homens, por meio da educação, formam outros homens.
A escola, enquanto instituição social singular, que visa a preparação dos indivíduos para a sua integração na sociedade, deve ir além das suas finalidades, pois a compreensão da educação é axiológica e filosófica, no sentido de transformar o homem em cidadão bom, um ser perceptível, que tenha bom senso e possa viver em harmonia com os outros.
No sentido lato, a escola tem a responsabilidade de estar comprometida em educar e preparar os indivíduos para o mundo futuro, pelo facto de o mundo continuar a mudar consideravelmente.
A este respeito, é preciso dizer que, muitas vezes, o futuro dos indivíduos depende dos seus valores, construídos e transmitidos na e pela escola, pois, em parte, os valores sociais podem determinar os objectivos da escola, partindo das seguintes reflexões: i – Qual é a real responsabilidade social da escola? ii – Será o de ensinar e transmitir conhecimentos científicos? iii – Será o de formar bons cidadãos para servir a sociedade? iv – Será que as nossas escolas formam bons cidadãos? v – Será que as nossas escolas formam cidadãos do futuro? Acreditamos que a Filosofia da Educação e a Sociologia da Educação podem ajudar-nos a responder as perguntas acima, uma vez que o comprometimento singular de análise e compreensão residem no objecto em estudo.
É ponto assente que a escola, enquanto instituição social singular, deve necessariamente reflectir sobre os seus sujeitos, pelo facto de a Escola ser uma das maiores agências de socialização do mundo contemporâneo. A escola, por meio da educação, deve formar bons cidadãos, pensadores reflexivos e críticos que estejam comprometidos a pensar e repensar o seu tempo.
É preciso formar cidadãos capazes, que tenham uma visão muito séria sobre o contexto social de um país. Nas sociedades contemporâneas, é preciso que a escola, dentro da sua responsabilidade social, crie mecanismos de um “Programa de Leitura”, pois não se constroem sociedades sem cidadãos leitores e, por meio da leitura, em certa medida, pode-se iniciar uma grande consideração sobre a importância da escola, o respeito e a valorização da escola pelos seus sujeitos.
A escola deve ser reflexiva, deve reflectir sobre a acção dos seus sujeitos, deve reflectir sobre a reformulação dos seus padrões de funcionamento, os caminhos a serem percorridos no sentido de os melhorar.
Em virtude dos argumentos apresentados, gostávamos de terminar com o que foi dito na entrevista pelo Prof. Doutor Clóvis de Barros Filho: “É necessário construir um apreço pela escola e pela educação”.
Por: FERREIRA AUGUSTO