Hoje em dia, há muitos caçadores de erros. Infelizmente, esses caçadores são tão arrogantes que, em todos os contextos de comunicação, levam um livro de regras enorme e transportam-no na mochila.
Se fossem até caçadores de animais, acredito que teríamos carnes suficientes e, aos domingos, os grelhados e copitos com vinho alegrariam o nosso dia.
Nós fomos criados para viver livre da opressão dos caçadores de erros. Eles são insuportáveis, tudo por nada dizem “estás errado; não se diz assim; fala correctamente; até você não sabe falar?; falas tão mal”; eles querem que sejamos rectos em todos os contextos de comunicação, em todos os momentos e circunstâncias.
Na verdade, eles são bons ouvintes e muito observadores, pois procuram oportunidades de corrigir segundo após segundo.
Entretanto, é mesmo necessário ser um caçador de erros? A resposta é, como é óbvio, não. Cada pessoa é um ser singular, cada um de nós merece falar li- vremente. Ninguém fala de for- ma errada.
Willian Labov che- gou de dizer que, no estudo da linguagem, devemos celebrar a diversidade e entender que não há um único “certo” ou “errado”. Os caçadores de erros esquecem-se de que certas palavras que as chamam de erradas, noutros contextos podem/poderão ser usadas e serem consideradas certas. No entanto, dizer categoricamente “essa palavra está errada” é errado.
Os linguistas, os profissionais da descrição, quando abordam essa temática, preferem usar os termos “adequados e inadequados”. Faz muito sentido ter essa noção porque uma palavra “inadequada” num contexto, pode/poderá ser “adequada” noutro.
Por exemplo, no contexto formal, indubitavelmente, não é adequado utilizar expressões informais. Por lado lado, ainda sobre o contexto formal, o director não pode ser chamado wy, wey, bro ou, talvez, papoite; os termos utilizados estão inadequados em função do contexto formal. Entretanto, quando usados em contextos informais, obviamente, serão considerados adequados.
Portanto, a língua é uma arte e as pessoas que as praticam são, razoavelmente, artistas. Em se tratando de comunicação, os artistas são criativos e, claro, deixam isso claro no dia-a-dia.
Se o momento não exigir rigidez/ rigor comunicativo, por favor, caçadores de erros, deixem-nos em paz, sejam mais linguistas, pois a comunidade deseja pessoas que entendem o que os outros dizem ou queiram dizer e não daqueles que vivem oprimindo o próximo com “certo e errado” segundo após segundo.
POR: LUTINA SANTOS